“Até 1872, a Maçonaria no Brasil respeitou a religião
católica.
Introduziu-se no clero, nos conventos, nos cabidos, nas confrarias.
Mas
quando teve um Grão-Mestre à frente do Governo nacional, julgou oportuno atacar
a Igreja”
Antônio Carlos Villaça. 1
Historicamente a presença da Maçonaria no Brasil não
despertou nenhuma oposição durante muitos anos, encontrando nesta terra terreno
fértil para criar raízes e estabelecer importantes parcerias com objetivos
políticos ou mesmo sociais. Diferente da regra canônica que imperava em outros
países – cuja bula Papal condenava quem se associasse à Ordem –, a força da Ordem impulsionava posições de
destaque inclusive em importantes cidades como por exemplo no Rio de Janeiro,
capital brasileira na época. 2 .
Foto de D. Vital como frei capuchinho. Fonte: www.google.com |
A tensão entre a Igreja Católica e a Ordem dos irmãos
pedreiros teve como cenário a cidade de Olinda, e como principal personagem Dom
Vital 3 , nomeado Bispo aos 27 anos. Em março de 1872, houve uma festa da Maçonaria
que comemorava a Lei do Ventre Livre, 4 obtida pelo então principal Ministro do
Imperador, Presidente do Conselho o
Visconde de Rio Branco. Consta que um dos oradores da festa foi inclusive um
padre, chamado Almeida Martins. O bispo do Rio de Janeiro, D. Pedro Maria de
Lacerda, surpreso com tal atitude, chamou o padre em particular para
ponderar-lhe que ele não podia ser padre e maçom ao mesmo tempo. O padre
recusou atender a qualquer ponderação e o bispo suspendeu-o de ordens. A Maçonaria
considerou-se atingida com tal ato e em assembleia, decidiram iniciar uma campanha
coletando fundos e criando publicações para divulgar os interesses da Ordem em
todas as capitais do país.
Assim, quando D. Vital chegou ao Recife, já encontrou os jornais maçons em circulação, divulgando também determinados
eventos realizados inclusive nos edifícios das próprias igrejas católicas.
Primeiro anunciaram que iria haver uma missa em ação de graças numa loja.
Diante da proibição sigilosa do bispo, nenhum padre ousou celebrá-la. Depois,
pediram missas por maçons falecidos e mais uma vez houve a recusa dos padres.
Por fim o jornal "A Verdade" publicou uma série de artigos entendidos
como ofensas pelas diretrizes católicas da época, e em resposta, o bispo D. Vital publicou um protesto contra estes textos específicos,
motivando a população a protestar também, e reforçando ainda tais posições em um sermão público na catedral da cidade. À
revelia, dias depois o jornal “A Verdade”, publicou lista de padres e cônegos, presidentes,
secretários e tesoureiros de irmandades que também pertenciam às lojas, e o bispo
chamando-os um por um, em particular, exigiu retração publica e o desligamento
das lojas.
Foto do Visconde do Rio Branco. Fonte: www.google.com |
Enquanto uma onda de insegurança reinava em Olinda, também o
bispo de Belém do Pará, D. Antônio Macedo Costa, resolveu combater a Maçonaria. As notícias a respeito, chegaram
ao Rio de Janeiro, e provocaram no Governo uma resposta aos dirigentes da
Igreja Católica. Depois de inúmeras trocas de cartas envolvendo desde o
Imperador até o Papa da época, o Governo mandou processar e prender D. Vital trazendo-o
ao Rio de Janeiro para ser julgado pelo Supremo Tribunal. D. Vital foi
condenado a 4 anos de prisão com trabalhos forçados, mesma punição do bispo de
Belém. Mesmo preso, D. Vital escreveu e mandou publicar uma carta, "A
Maçonaria e os Jesuítas", com 139 páginas, em que defendia a estes e
atacava a Ordem. 5 Por razões políticas, caiu o gabinete do
Visconde do Rio Branco e o Duque de Caxias foi chamado para sucedê-lo, concedendo
anistia aos bispos.
Os ânimos se acalmaram e a convivência, ao menos em território
nacional se manteve pacífica. Contudo, a posição da Igreja Católica permaneceu
igual, enumerando os princípios considerados incompatíveis com a Doutrina
Católica Romana. 6 Em todos os estudos realizados com base acadêmica,
em nenhum momento notam-se sentimentos
anticlericais, anti-Igreja ou anticristãos por parte dos membros da Ordem.
Contudo, o desgaste ocasionado por conflitos históricos em disputas de poder
geraram “ranços” que criam preconceitos contra essa ou outras Ordens Secretas. O
cenário do século XXI dissocia a Religião, a Ciência e a Magia, criando
barreiras intransponíveis mesmo em um território pacifico como o brasileiro. No
momento de pluralidade religiosa, outras correntes se tornam mais ameaçadoras e
ao menos por enquanto, o simbolismo das Ordens Secretas pode ser admirado e estudado
com maior tranquilidade.
1 – VILAÇA, Antonio Carlos. História da Questão Religiosa no
Brasil.
Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1974. P. 7.
2 – Visconde do Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos
(* 16
.03. 1819 Salvador BA. + 0.111.1880, RJ). Seu pai era o português e tio coronel
de
engenheiros foi estudar no Rio de Janeiro onde ingressou no curso de
Engenharia na Escola Militar.
Afiliou-se membro da Maçonaria por volta de 1840,
chegando a publicar um folheto a respeito da "Constituição Maçônica".
Importante político da época, tornou-se Grão-Mestre da Loja da rua do
Lavradio,
cooperando com a publicação de
vários jornais anticlericais editados pela maçonaria,
entre eles no Rio, o
jornal A Família; em São Paulo, o Correio Paulistano;
em Porto Alegre, O Maçom;
no Pará, o Pelicano; no Ceará, A Fraternidade;
no Rio Grande do Norte, A Luz;
em Alagoas,
O Labarum e em Recife, dois, A Família Universal e A Verdade.
Foi
um dos ministérios mais duradouros do período imperial, com participação
de
políticos de ambos os partidos. Coube a Paranhos sancionar a Lei do Ventre
Livre
(28 de setembro de 1871) e enfrentar a questão epíscopo-maçônica nos anos
de 1873/1874.
Fonte: http://pt.wikipedia.org
3 - D. Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira (* 27.11.1844 PE,
+ 1878, Paris.FR)
com nome civil foi
Antônio Júnior. Estudou no Seminário de Olinda,
e depois em S. Sulpice em
Paris, se tornando capuchinho.
Posteriormente passou por outros dois seminários
europeus antes de retornar ao Brasil,
em 1868, vindo a integrar o corpo docente
no Convento dos franciscanos em São Paulo.
Em março de 1872 foi sagrado bispo
por indicação do Governo do Império do Brasil,
e nomeado bispo de Olinda e
Recife e tomou posse de seu cargo em 24 de Maio de 1872.
D. Vital, morrreu aos 33 anos de idade, em Paris. Seu
corpo foi enterrado na cripta dos
franciscanos em Versalhes, de onde, mais
tarde, foi trasladado para o Recife.
Está enterrado na Basílica de N. Sra. da
Penha, em Recife.
OLIOVOLA O.F.M, Frei Feliz de. D. Vital -- Um Grande
Brasileiro.
Edição da Imprensa Universitária, Recife, 1967.
4 - A Lei do Ventre Livre, também conhecida como “Lei Rio
Branco” foi uma
lei abolicionista, promulgada em 28 de setembro de 1871
(assinada pela Princesa Isabel).
Esta lei considerava livre todos os filhos de
mulher escravas nascidos a partir da data da lei.
Tinha por objetivo principal
possibilitar a transição, lenta e gradual, no Brasil do
sistema de escravidão
para o de mão-de-obra livre. Vale lembrar que o Brasil,
desde meados do século
XIX, vinha sofrendo fortes pressões da Inglaterra para abolir a escravidão.
Junto com a Lei dos Sexagenários, A Lei do
Ventre Livre (1887),
a Lei do ventre Livre serviu também para dar uma resposta,
embora fraca,
aos anseios do movimento abolicionista.
5 – Voce pode acessar
o livro através deste link:
6 - O último documento da Igreja sobre o assunto foi
produzido pela Sagrada
Congregação para a Doutrina da Fé, em 26/11/1983, e
assinado pelo
Cardeal Joseph Ratizinger, que os maçons consideram como seu
inimigo figadal.
A Declaração afirma:
“Permanece imutável o parecer negativo da Igreja a respeito
das associações
maçônicas, pois os seus princípios foram sempre considerados
inconciliáveis com
a doutrina da Igreja, e por isso permanece proibida a inscrição nelas.
Os fiéis que pertencem às associações
maçônicas, pois os seus princípios foram sempre
considerados inconciliáveis com
a doutrina da Igreja, e por isso permanece proibida a inscrição nelas.
Os fiéis que pertencem às associações
maçônicas estão em estado de pecado grave, e não podem aproximar-se da Sagrada
Comunhão”. http://www.presbiteros.com.br/site/maconaria-um-pouco-de-historia/
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