segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O sagrado inserido no cotidiano de um povo

“... a parte da divindade [sangue dos deuses atlantes] dentro deles estava se
                                                               tornando cada vez menor e mais fraca pela mistura com os mortais
                                               [sangue dos homens] cujo sangue se tornava cada vez mais dominante (...)  pois
                                                               haviam perdido sua maior herança,sua parte mais preciosa e valiosa. (...)
                                               E Zeus, deus dos deuses  (...)  percebeu como essa raça íntegra estava em um
                                               terrível apuro e quis infligir-lhe um castigo.”

                                               Platão, Timeu e Crítias ou Atlântida, 561 a.C.  1

               A religiosidade fazia parte do cotidiano dos gregos   2   e posteriormente dos romanos, já que grande parte dos conceitos religiosos destes foi retirada da cultura grega. Naqueles tempos quando a reverência pagã ainda não havia contaminado o mundo europeu, qualquer objeto que passasse pelas mãos de um artesão continha propriedades sagradas, pois o trabalhador estava consciente da natureza sagrada dos materiais com que trabalhava e da sua responsabilidade como fiduciário desse mesmo material.
             Foi devido aos padrões empregados na sociedade grega que os estudos de simbologia se difundiram.  Isso porque quando a religiosidade se incorporou na vida do povo grego, criou-se uma nova condição para a geometria sagrada, que, diferente do que acontecia nas civilizações egípcia e babilônica, não estava mais restrita aos sacerdotes (guardiões e interpretes de todos os conhecimentos) mas nas mãos de cidadãos livres que começavam a investigar racionalmente a natureza e o universo. 3. 
            Do ponto de vista mitológico, o sistema de valores da sociedade grega não girou em torno de um soberano autocrata ou de um deus incompreensível, mas em torno do homem  3  – “O homem é a medida de todas as coisas, dos seres vivos que existem e das não entidades que não existem.”, diria Protágoras (481 – 411 a.C.) 4. Acreditavam que as pessoas pudessem procurar a verdade por meio da indagação e do debate.
             A mitologia grega baseava-se em deuses que viviam da mesma forma que os homens da época. Tinham as mesmas necessidades, as mesmas imperfeições, os mesmos sentimentos. Criaram deuses olímpicos com todas as suas forças e imperfeições de homens e mulheres. Os deuses “habitavam” a Terra e permeavam o cotidiano das pessoas. Por isso, toda a Terra e seus elementos também eram sagrados. Assim, esculpir e modelar era um ato de adoração, e o artesão trabalhava com o melhor de sua habilidade. 5

Os deuses do Olimpo.
Fonte: greekmithology.com

 Na Roma antiga os homens seguiam uma religião onde os deuses apesar de serem imortais, possuíam características comportamentais e atitudes semelhantes aos seres humanos. Sua religião porém não se baseou na graça divina e sim na confiança mútua entre deuses e homens; e seu objetivo era garantir a cooperação  e  a  benevolência dos deuses para com os homens e manter a paz entre eles e a comunidade. Diferente dos gregos, os romanos tinham sentido prático e poucas preocupações filosóficas acerca da natureza ou da divindade. Seus preceitos religiosos não incorporaram elementos morais, mas consistiram apenas de diretrizes para a execução correta dos rituais. Também não desenvolveram uma mitologia imaginativa própria sobre a origem do universo e dos deuses; seu caráter legalista e conservador contentou-se em cumprir com toda exatidão os ritos tradicionalmente prescritos, organizados como atividades sociais e cívicas. Sem teologia elaborada, a religião romana não entrava em contradição com essas divindades, nem os romanos tentaram impor aos conquistados uma doutrina própria. 6

Deuses romanos: diferenciados pelo nome e aparência externa.
 Nos próximos estudos poderemos observar como a diferença no grau de importância da religião marcou definitivamente as construções religiosas das civilizações grega e romana.
Fontes:

1. PLATAO. Timeu e Crítias ou Atlântida. SP. Editora Hemus. 2002. p.55.

2. . WITTKOWER, Rudolf. Los fundamentos de la arquitectura em la edad del humanismo.
Madri, Espanha. Alianza editora. 2002. Apêndice IV parte II. P. 209.

3. O homem passa a ser a figura central filosófica só a partir de Sócrates (Atenas, 470 ou 469 a.C. – 370 a.C.) que, valorizando a descoberta do homem feita pelos sofistas, orientou-a para os valores universais segundo a via real do pensamento grego. Os filósofos pré-socráticos (como Heráclito, por exemplo) divinizavam a natureza, utilizando de seus elementos para comparações em seus discursos.

4. PENNICK, Nigel. Geometria sagrada. SP. Editora Martins Fontes. 1980. p.7

5. Ibid, p.67.

65. GURY, Mario da Gama. Dicionário da Mitologia grega e romana. SP. Editora Jorge Zahar.2003

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Os dez mandamentos - filme 1956.


            Um filme brilhante. Poucos filmes podem ser igualados à refilmagem de Cecil B. Demille, realizada em 1950, do épico "Os dez mandamentos". Filmado no Egito e no monte Sinai, em um dos maiores cenários construídos para um filme, esta versão conta história da vida de Moisés (Clarlton Heston), favorito na corte do faraó (Yul Brynner), que deu as costas a uma vida privilegiada para liderar seu povo em busca da liberdade.  A vida de Moisés é retratada neste longa,  desde de seu nascimento, quando é colocado em um cesto nas águas do rio Nilo, até quando a princesa egípicia Bithiah o encontra e resolve criá-lo como príncipe. Quando Moisés descobre tudo sobre sua origem, ele dedicará sua vida a libertar escravos e conduzí-los à terra prometida.  


           Todas as passagens bíblicas escritas no livro bíblico do Êxodo são retratadas com primor neste épico, desde o encontro com o Deus Javé no alto do Monte Sinai, passando pelas mágicas advindas do cajado, terminando no ápice da abertura do mar Vermelho "onde os hebreus passaram a pé enxuto".  Da mesma forma, todos os temas estudados nesta semana estarão presentes neste filme clássico, que retrata principalmente a presença do povo hebreu como escravo no Egito, comprovando que determinados conhecimentos certamente os acompanharam quando ganharam a liberdade e passaram a viver na Terra Prometida. 
            A serguir o trecho mais importante do filme: a abertura do mar Vermelho... Bom final de semana.


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A vara: transmissão de um sistema de medidas através das civilizações.


“ Javé dirigiu-se a Moisés dizendo-lhe: ‘ Fala aos filhos de Israel: que te seja dada um bastão,
                               da parte de cada tribo, ou seja, doze bastões, uma de cada um dos chefes, tribo por tribo.
                               Escreve o nome de cada um, sobre o próprio bastão.  Mas, sobre o bastão de Levi, escreve
                               o nome de Aarão, porque haverá um bastão especial para os chefes da família de Levi.”

                               Bíblia, Números 17, 16-18.

            A figura de Thoth, ou Hermes é representada com um bastão à mão, conhecido como bastão de Argos – na mitologia grega, o bastão que adormeceu o gigante de cem olhos, e libertou a bela Io. 1 O bastão de Thoth tem o formato do bastão egípcio, assim como o bastão do Papa – báculo. Por se tratar de um acessório representativo do Divino, o bastão (também chamado de vara ou cajado em alguns textos sagrados) era o símbolo do comando, e era oficialmente levado pelos chefes no exercício da autoridade.  2
            Sendo um acessório exclusivo das autoridades, era a partir do bastão que se estabeleciam as medidas adequadas aos projetos dos Templos, de forma a preservá-la e manter seu conhecimento exclusivamente aos religiosos e governantes. A unidade de medidas era o côvado, e o bastão utilizado para transpor as medidas na obra tinha um número pré-determinado de côvados, sendo este número aproximadamente de 5,5 côvados.   3   Este número provinha do valor de Pi (p), já conhecido pelos filósofos e matemáticos da época, expresso pela fração 22/7 - os números irracionais eram representados em forma de fração, e foram conhecidos a partir de estudos da diagonal do quadrado - .  Do valor de Pi dividido por 4  (o número de lados do quadrado)  obteve-se a  proporção  5,5, usada na vara sagrada.  Sendo assim, a vara tinha aproximadamente 288,20 centimetros de comprimento, e esta foi a medida utilizada por muito tempo na modulação básica dos edifícios religiosos.
Moisés e sua vara.
Fonte: gift15.blogspot.com
            Com a vara, além do exercício de autoridade, transmitia-se a unidade de medidas dos edifícios sagrados  egípcios.   Do ponto de vista bíblico/histórico,  levando  consigo  o  bastão,  Moisés  (que  viveu  durante  muito  tempo junto ao Faraó)   levou também as medidas sagradas. Posteriormente, o bastão sendo distribuído entre os chefes das doze tribos de Judá,  4  possibilitou o uso desse sistema de medidas na construção do Tabernáculo e do Templo de Salomão embora, nestes casos, a quantidade de côvados fosse diferente da vara egípcia.  5. Ainda com base nos textos da Bíblia, acredita-se que José de Arimatéia depois de cumprir sua missão em Jerusalém  (doando o sepulcro a Jesus Cristo), se dirigiu a região da Gália (nome romano da região hoje conhecida como França), e juntamente com alguns cristãos, edificava igrejas a partir do côvado.
            Dessa forma, o único sistema de medidas conhecido como sagrado (por estar presente nas Escrituras)  ia  sendo utilizado para a construção de edifícios religiosos, permanecendo válido até meados do século XVIII, quando Napoleão, ajudado pela Academia de Ciências da França propõe o uso do metro como referência para as construções da época.

Fontes:

1.  KURY, Mario da Gama. Dicionário da Mitologia Grega e Romana
7ª edição – São Paulo: Editora Jorge Zahar, 2003.2. Bíblia, Êxodo 4, 1-5. 
3. ELLIS, Ralph. Thoth, o arquiteto do Universo: mapas neolíticos da Terra./
tradução de Flávio Lubisco – Rio de Janeiro: Madras Editora Ltda, 2006. c. IV e passim.
4.  Bíblia, Números 17, 16 – 26. 
5. Bíblia, Êxodo 37. Construção do Tabernáculo, I Reis 6 – 8. Construção do Templo de Salomão.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O côvado e sua importância na geometria sagrada.

“Por fim Deus disse: Façamos o Homem à nossa imagem, como nossa semelhança.”
Gênese 1, 26.

“O homem é o modelo do mundo”
Leonardo da Vinci, manuscrito A, 55v.
 Como   explicado,  na  Antigüidade,  o  quadrado   (por   se   tratar   de   uma   figura  com quatro ângulos retos) era desenhado com o auxílio da “corda dos  druidas”.  A  corda  dos druidas era uma corda com treze nós, ou doze intervalos iguais, em  que  se  podia  estabelecer um ângulo reto a partir de um triângulo retângulo, conforme o  teorema  de  Pitágoras  (3,  4  e hipotenusa 5). Os intervalos entre os nós da corda  eram obtidos  a  partir  do  côvado,  medida baseada no comprimento do antebraço do homem – entre a ponta do dedo médio e o  cotovelo. 
 Não se sabe o momento nem o motivo que deu origem ao estabelecimento dessa medida (especula-se que foi determinada pela prática dos povos para vender tecidos) 1,  mas sua presença está marcada  em  inúmeros edifícios  religiosos  da  Antigüidade, bem  como em passagens de livros sagrados como a Bíblia, a Torá e o Alcorão.

             A unidade de uso diário do côvado no Egito era equivalente a 44,9 centímetros de comprimento. Como a maioria dos côvados no  Oriente  Médio,  ele  era  subdividido  em  seis palmos de comprimento, cada um medindo 7,5 centímetros. Anos mais tarde, os gregos instituíram uma medida chamada “pé”, que equivalia a 30 centímetros e conforme os textos clássicos era subdividido em quatro palmos. A convenção normal era que 1,5 pé equivalia a um côvado e, por isso, suspeita-se que o pé grego baseava-se no côvado curto  egípcio,  pois 1,5 pé é igual a 45 centímetros. 2
            Conforme os textos sagrados, o côvado utilizado para as edificações com caráter religioso tinha uma medida especial: “Eis as dimensões do altar, calculadas em côvado, constituídos de um côvado comum mais um palmo: a cercadura tinha um côvado de altura e  um côvado de largura.”   3 . Como um côvado equivalia a 44,9 centímetros, para o côvado sagrado ficou estabelecida a dimensão de 52,4 centímetros. Esta foi a medida utilizada no Tabernáculo, no Templo de Salomão, na Grande Pirâmide e em outros edifícios da Antigüidade, todos projetados com planta ou modulação de base quadrada. Posteriormente os Templários e Maçons resgataram essa medida utilizando-a em algumas igrejas da Idade Média, bem como a figura do quadrado, estabelecida nos textos sagrados.
 A relação entre o quadrado e o côvado está fundamentada no corpo humano. O corpo humano possui como medida 4 côvados na altura, por 4 côvados na largura. O esquema conhecido como Homem Vitruviano (estabelecido primeiro por Vitrúvio no século I ), ficou famoso com Leonardo da Vinci, que evidenciou as figuras do quadrado e do triângulo. A divisão de 4 côvados na altura se estabeleceu da seguinte forma: o primeiro côvado do pé ao joelho, o segundo côvado do joelho ao órgão genital, o terceiro côvado do órgão genital ao mamilo, e o quarto côvado do mamilo ao topo da cabeça. Na largura, dois côvados estão presentes nas pontas dos dedos médios até os cotovelos de cada braço, o terceiro côvado na largura dos ombros, e o quarto côvado pela somatória dos cotovelos até o ombro em cada um dos braços.
Homem vitruviano de Leonardo da Vinci.
Fonte: portaldascuriosidades.com
Quatro são os lados do quadrado, quatro são os côvados na altura do homem; altura igual a largura forma o quadrado, símbolo do material e da Terra. Esta analogia entre o homem e o quadrado determinou seu uso sempre que se pretendia apontar o conflito entre o físico e o etéreo, o céu e a terra, o sagrado e o profano.
 Fontes:
1. in Deuses, túmulos e sábios, C.W. Ceram.
2. in Thoth, o arquiteto do mundo: mapas neolíticos da terra, Ralph Ellis, c. IV e passim.
3. in Bíblia, Ezequiel, capítulo 43, versículo 13.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O Retorno da Múmia, filme - 2001.

            A história do filme que começa nas escavações no Vale do Nilo, tem seu momento crucial em Londres, dentro de uma sombria câmara do Museu Britânico, onde está para renascer uma antiga força do terror. É 1933, o ano do Escorpião. Faz dez anos desde que o corajoso Rick O'Connell (Brendan Fraser) e a egiptóloga Evelyn (Rachel Weisz) lutaram por suas vidas contra Imhotep (Arnold Vosloo), um inimigo com 3.000 anos. 
            Rick e Evelyn estão casados e moram em Londres, juntamente com seu filho, Alex (Freddie Boath), que tem oito anos. Vários eventos culminam com a descoberta do corpo de Imhotep ressuscitado, graças à ajuda da reencarnação de sua amada do antigo Egito, Anck-Su-Naman (Patricia Velazquez), que matou e morreu por ele. Assim, a múmia volta a vagar pela Terra, determinada em concretizar sua busca pela imortalidade. Porém, outra força também está à solta no mundo, o Escorpião Rei (Dwayne Johnson), que nasceu dos obscuros rituais do misticismo egípcio e é ainda mais poderoso que Imhotep. Quando se defrontarem, o destino da Terra estará em perigo e Rick e Evelyn darão início à uma corrida desesperada para salvar o mundo de um mal indescritível e também para resgatar Alex dos seguidores de Imhotep, que levaram o menino pois este, sem ter idéia, colocou no braço o bracelete de Anúbis, um artefato de incrível poder.
             Nessa jornada irão até o Egito e entrarão nos domínios do Escorpião Rei. Há muito tempo esse terrível guerreiro prometeu sua alma ao deus Anúbis em troca de soberania militar. Ele e seu exército ficaram congelados no tempo, em uma espécie de intervalo entre a vida e a morte, mas agora estão prontos para matar novamente. O Escorpião Rei possui mais poderes, segredos e força que o temível Imhotep, está cheio de ódio e não devia ser perturbado.
              A produção do filme é primorosa, apresentando de forma bem correta o que era o interior dos templos egípcios, bem como a religiosidade em seus fundamentos mais importantes, como o tema reencarnação. Não pode ser considerado o melhor dos filmes clássicos sobre egiptologia, contudo é uma boa dica para ilustrar alguns dos pontos apresentados durante esta semana de intensa geometria sagrada egípcia. Vale a pena reunir a família e desfrutar de momentos de ação com um gostoso balde de pipoca.
               Como de costume, a seguir o trailler do filme:


Dica Forg: Preste atenção na forma como os antigos egípcios guardavam os corpos dos mortos. Analise os pontos ligados à  religiosidade e arquitetura, principalmente este segundo,  no que diz respeito às formas geométricas presentes no lugar.
              

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Os deuses egípcios e suas necessidades arquitetônicas: antecedentes históricos.

“No centro de todas as coisas mora o Sol.
 Pode-se imaginar um melhor lugar neste templo, o mais belo de todos que aquele
desde o que pode visualizar ao mesmo tempo todas as coisas?
Se o chama com razão luminária, espírito, Senhor do Universo.
Para Hermes Trismegisto, é o Deus invisível; para Electra de Sófocles, nada escapa a seu olhar.
Sentado no alto de seu trono, o Sol guia a seus filhos que o circundam.”

Nicolau Copérnico, De revolutionibus orbium caelestium, 1543. 1


O círculo foi a forma adotada pela civilização egípcia para sintetizar a existência de um Deus Supremo, o Arquiteto do Mundo. Após quase dois mil anos de politeísmo, por volta do ano de 1.379 a.C., durante o reinado de Amenófis IV estabeleceu-se o culto a um único deus, chamado Aton (antigo deus Amon – deus Sol). O faraó, que passou a se chamar Akhenaton, “ aquele que serve a Aton",  proibiu e fechou os templos dedicados a outros deuses. O culto a Aton, que havia começado por volta do ano de 2.000 a.C. com o faraó Amenemhat,  espalhou-se por todo o país.

A mitologia o colocou como um dos oito deuses da pré-criação, tornando-o deus da nação. Por isso, foi marcado como o deus-Sol Rá, ou como “Amon-Rá, deus dos deuses”, sendo representado como um círculo irradiando luz para a terra através de raios solares.  Fonte: arquivosdoinsolito.blogspot.com

A iniciativa de Akhenaton apesar de ter interesses políticos, já que ele próprio denominou-se o “filho do Sol”, possibilitou contribuições significativas para o desenvolvimento das grandes religiões monoteístas do mundo atual, todas elas com um denominador comum: as Escolas de Mistérios do Egito.  
A primeira escola criada da qual se tem informação foi a Escola Osiriana, cujos ensinamentos tinham por objetivo a vida, a morte e a ressurreição, conforme o mito de Osíris. Os ensinamentos eram transmitidos por meio de peças teatrais e dramas ritualísticos, e somente as pessoas que davam prova de seu desejo sincero em obter esse conhecimento poderiam participar. Com o passar do tempo, essas escolas foram tendo um caráter mais fechado, e os estudos místicos foram sendo desenvolvidos em templos próprios, criados especialmente para esses fins.
O faraó Tutmés III (1.540 a 1.447 a.C.), tido  pelos  historiadores  como  um  dos  mais  importantes da 18º Dinastia, foi o responsável pela reformulação das Escolas de Mistérios, reunindo todas elas em uma única Ordem, regida sob as mesmas normas. Nesse novo modelo, as escolas de mistérios eram convocações onde os adeptos estudavam sobre a Sabedoria Sagrada de Thoth, o deus egípcio da Matemática, da Escrita, da Astronomia e da Engenharia:
“(...) possuía [Thoth] grande habilidade em Matemática celeste, cujas leis foram as quais a criação e a manutenção do Universo se basearam (...) ele foi o inventor dos números e das letras do alfabeto, e das artes de ler e de escrever (...) compreendendo os mistérios dos céus, os revelou e os inscreveu em livros sagrados escondendo-os aqui na terra, com a intenção de que fossem procurados pelas gerações futuras, mas encontrados somente por verdadeiros merecedores.” 2.
Não existem registros sobre a existencia de Thoth, mas atribui-se a ele uma coleção de mais de 30.000 volumes, que continham todos os conhecimentos naturais e sobrenaturais, escritos em hieróglifos; e todo esse "Conhecimento" era ensinado aos iniciados pelos mestres dirigentes dos rituais. 
 A fama das Escolas de Mistérios proporcionou um número grande de interessados, o que gerou  uma revolução no campo das artes, cultura e arquitetura. Akhenaton, que foi elevado ao cargo de Mestre, ordenou a construção do  templo  de  Aton, além de outros edifícios mais específicos para a realização dos rituais. No entanto, de todos, o edifício mais simbólico foi a  Grande Pirâmide, edificada no reinado do faraó Quéops (sua construção data de aproximadamente 2.528 a.C.), sendo referida como o santuário de Thoth.  Posteriormente, os gregos que tinham por costume renomear os personagens de outras civilizações com o nome equivalente em sua língua, também o fizeram com o deus do "Conhecimento" , e neste sentido a existência da grande pirâmide foi fundamental; Thoth foi renomeado como Hermes, cuja raiz é a palavra Herma, que quer dizer montanha de pedras. 3.


 Todo o suposto “Conhecimento de Thoth” foi compilado, passando a se chamar “Sabedria Hermética”, reescrita na famosa “Tábua de Esmeralda”, súmula de conhecimentos iniciáticos.  Diversos personagens históricos cuja produção arquitetônica ou artística tem fundamentos simbólicos do ponto de vista religioso, certamente estudaram ou tiveram conhecimento deste capítulo importante no conhecimento da geometria sagrada.  Entendendo estes antecendentes históricos, certamente será mais fácil compreender  as raízes das teorias de vários geômetras que viveram na era cristã.
 Fonte:
1. ROOB, Alexander. Alquimia & Mística, el museo hermético – Madri, Espanha: Taschen, 2005.
2.  ELLIS, Ralph. Thoth, o arquiteto do Universo: mapas neolíticos da Terra./
tradução de Flávio Lubisco – Rio de Janeiro: Madras Editora Ltda, 2006. p. 60. apud IONS, Veronica. God of Egyptians.
3.  PLATAO, Timeu e Crítias ou a Atlântida. Editora Hemus. Sao Paulo, 2002. p. 33.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A arquitetura como representação da montanha sagrada - Final.

" Não existe lugar nos altiplanos peruanos que seja melhor defendido por baluartes naturais(...) Para impedir que os inimigos ou visitantes não desejados alcançassem seus santuários e templos, confiaram primeiro nas correntezas do rio Urubamba, que são perigosas mesmo na época de seca e absolutamente intransponíveis durante pelo menos seis meses do ano. Pelos três lados, essa era a sua linha de defesa. Pelo quarto lado, o maciço de Machu Pichu é acessível apenas desde a chapada das alturas e somente por uma trilha estreita como um fio de navalha, flanqueada por precipícios".
Dr. Hiram Bingham, descobridor do sítio arqueológico inca em 1911. 1
            A arquitetura  religiosa  das civilizações ocidentais também ilustra a  necessidade destes povos  entrarem em harmonia com o Cósmico através da verticalidade. Não apenas no sentido emocional mas, a análise de diversos edificios erigidos ao longo das Américas,  tem seu paralelo no sistema estrutural de edificações piramidais mais simples construidas no Oriente - como os zigurates mesopotâmicos -, mostrando a ligação entre as tecnologias, e vocabulário arquitetônico utilizado entre diversos povos.
Pirâmide Maia.
Fonte: arquiteturamaia.blogspot.com
            Os templos maias, anteriores a 800 d.C., foram edificados com 9 plataformas recuadas sobre base quadrada, fabricadas com terra e cascalho em aterro (na maioria rocha sólida). Assim como na civilização mesopotâmica, os rituais também eram realizados na parte mais alta da edificação, cujo acesso se dava por escadaria externa.
            As pirâmides astecas de Teotihuacan, no México, configuram-se como as pirâmides maias, porém possuem um projeto de implantação bastante organizado, à maneira como os egípcios implantavam suas pirâmides. As bases dos edifícios preservados são quadradas ou retangulares, mostrando que não estavam preocupados quanto a forma da base, mas sim com o contato com o Cósmico por intermédio da verticalidade – a montanha simbólica. Embora a relação entre estas construções e a dos egípcios seja especulada como datadas do mesmo período (cerca de 2600 a.C.), a hipótese mais certa é de terem sido construídas a partir de 800 d.C. 2.
Complexo de pirâmides em Teotihuacan, México. Ilustração.
Fonte: mexicohoy.com
Complexo de pirâmides em Teotihuacan.
Fonte: viajehoy.blogspot.com
            A última civilização ocidental cuja arquitetura religiosa possui aspectos semelhantes às construções piramidais é a Inca. No entanto, a importância da montanha na conexão com o Divino foi utilizada na forma literal, segregando duas montanhas para a edificação de todo um complexo religioso: Macchu Picchu e Wayna Picchu, a montanha jovem e a montanha velha. Na realidade, as edificações principais estão em Macchu Picchu, sendo implantadas em sua maioria na parte mais plana da montanha, deixando os pontos mais acidentados para as "terrazas" onde se cultivavam os alimentos consumidos pelos moradores do lugar. Porém em Wayna Picchu é possivel  identificar edificações escalonadas,  sendo uma delas inclusive chamada de pirâmide inca. Mesmo assim, acredito que a análise no que se refere ao tema "montanha sagrada", para o caso da civilização inca, está mais na apropriação de um monte do que na tentativa de reprodução do mesmo.
Macchu Picchu e Wayna Picchu.
Foto do acervo particular.
            Após um longo tempo sem novas arquiteturas piramidais, no período que vai de 700 a 1.200 d.C., aparecem novos edifícios com esta tipologia no Oriente. Os países budistas passam a construir seus templos com uma nova volumetria, muito semelhante às pirâmides e zigurates: os pagodes. Originários da Mongólia, os templos inicialmente construídos com pedra e tijolos, passam a ser edificados com complexos sistemas de madeira, sendo o programa de necessidades dividido entre os vários pavimentos do prédio. O uso da edificação se dá na parte interna e os forros são ricamente decorados para forçarem o praticante a olharem para a direção do céu. Já na parte externa, marcos verticais são colocados na cumeeira do telhado, sinalizando o papel religioso do edifício para a sociedade.

Pagode Mongol.
Fonte: http://danny.oz.au/
            Com o advento de religiões como o Cristianismo, a tentativa de se estabelecer um contato com Deus recriando-se a montanha a partir do volume do edifício é abandonada. Posteriormente, essa volumetria tão especifica, que aponta para o alto, volta a ser utilizada na arquitetura ocidental contemporânea, porém com um novo discurso sobre o Sagrado.

Fonte:

2. ELLIS, Ralph. Thoth, o arquiteto do Universo: mapas neolíticos da Terra./
tradução de Flávio Lubisco – Rio de Janeiro: Madras Editora Ltda, 2006. c.VIII.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A arquitetura como representação da montanha sagrada - Parte I

“Moisés fez sair o povo para fora do acampamento, ao encontro de Deus, e eles se
                                               detiveram ao sopé da montanha. Ora, toda a montanha de Sinai fumegava, porque
                                               Javé tinha descido sobre ela no meio do fogo. (...) Javé desceu sobre a 
                                           montanha.  Javé chamou Moisés ao cume da montanha e Moisés subiu.”

                                               Bíblia, Êxodo 19, 17-18, 20.

           A busca por um contato íntimo com o Deus fez com que o homem classificasse alguns espaços naturais como sagrados. A montanha, por elevar-se para o céu era,  e ainda muitas vezes permanece sendo, uma mediadora entre o terreno e o divino, ligando os reinos da existência universal. Quando ela não era a própria morada dos deuses, poderia ser o lugar onde a divindade se manifestava, como a montanha nas Escrituras cristãs e judaicas. A montanha tinha que ser escalada, e a ascensão física correspondia à ascensão espiritual ou mística do homem. Por sua vez, a ascensão mística levava a união com o Cósmico, sendo o cume da montanha associado à iluminação. 
            A característica de estabilidade da base da montanha foi representada pelo uso da figura do quadrado, em edifícios que se erguiam do solo como representações artificiais de montanhas. Na categoria destes edifícios se encontram as pirâmides e os zigurates, todos edifícios de base quadrada.
Mastaba em Sakkara.
Fonte: reocities.com
            O volume do tetraedro repetiu-se ao longo da historia, inicialmente como um empilhamento de plataformas, comparável a escadarias em direção ao céu. As mastabas (3000 – 2650 a.C.), túmulos baixos de tijolos e pequenas pedras, podem ser considerados os primeiros “degraus” na evolução das pirâmides. Na seqüência, as mastabas foram sendo sobre-apoiadas, até configurarem a pirâmide escalonada de Djozer (cerca de 2500 a.C.), em Sakkara no Egito. Por ordem do faraó Djozer, o arquiteto Imhotep a construiu exclusivamente para cerimônias ritualísticas, sendo a estrutura de pedra mais antiga que sobreviveu ao tempo. Após a pirâmide de Djozer, deu-se a construção de inúmeras pirâmides egípcias (dentre elas a pirâmide vermelha e a pirâmide inclinada), todas orientadas rigorosamente em função dos pontos cardeais, a fim de criar a relação do edifício com o Divino através da incidência dos raios solares. O ápice destas edificações se deu com as três grandes pirâmides na esplanada de Gizé, Egito, cada uma nomeada com o nome de um personagem importante (todos da IV Dinastia) da época de construção do edifício: Kafre ou Quéfren, Menkaura ou Miquerinos, e Khufu ou Quéops, que é a maior de todas elas. 
As tres pirâmides.
Fonte: itm-rpg.forumeiros.com

           As três pirâmides serviram como um divisor de águas para a arquitetura egípcia, porque exigiram um grande esforço da civilização na sua construção. Após esse período – fim da IV Dinastia – entrou em declínio a arquitetura escalonada egípcia, em conseqüência ao grande custo da obra. Porém, na mesma época em que foram edificadas, aproximadamente outras 95 pirâmides em menor escala foram construídas ao longo do rio Nilo. 1
            Muito parecido com as pirâmides escalonadas egípcias, os zigurates da Mesopotâmia também eram edifícios destinados a atividades religiosas. Com a base na maioria das vezes retangular, estes edifícios se dividiam em vários pavimentos (o de Ur, datado de 2113 – 2096 a.C., tem sete),  interligados por escadarias externas, sendo o local para as cerimônias localizado na parte mais alta da construção. A torre de Babel  (1792 – 1750 a.C.) também se configurava como um zigurate, porém de base quadrada (aprox. 90 X 90 metros e 8 pavimentos). O material empregado para sua construção era o mesmo utilizado nos zigurates – alvenaria de tijolos secados ao sol – o que, de certa forma, impossibilitou a preservação deste edifício, constantemente atacado nas conquistas da Babilônia.
Zigurate.
Fonte: horahistoria.blogspot.com
Fontes:

1. ELLIS, Ralph. Thoth, o arquiteto do Universo:  mapas neolíticos da Terra./ tradução de Flávio Lubisco
Rio de Janeiro: Madras Editora Ltda, 2006. c.I.
  2. CERAM, C. W.. Deuses, túmulos e sábios. – São Paulo: Editora Melhoramentos, 21ª Edição, 2005.


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O quadrado

“O corpo humano perfeito e acabado se inscreve também em um quadrado,
pois quando está com os braços estendido e os pés juntos,
forma um quadrado regular cujo centro passa
exatamente pela parte mais baixa da genitária.”

Agrippa de Nettesheim, De occulta philosophia. 1


             
            Enquanto os edifícios sagrados de planta circular eram edificados com a ajuda do Divino através da luz solar que criava a vesica, o quadrado dependia apenas do trabalho do homem e o manuseio da corda dos treze nós; técnica já praticada nas artes pictóricas da civilização egípcia.  
             No antigo Egito, vários são os edifícios sagrados cuja figura do quadrado pode ser identificada; mas o uso desta forma na base da Grande Pirâmide o tornou mais evidente. Embora no volume do edifício sobressaia à forma triangular que aponta para o céu, o quadrado da base tem o caráter de estabilidade. No entanto, o edifício egípcio que foi significativo para a propagação da planta quadrada às demais construções religiosas foi o Templo de Aton. Construído pelo faraó Akhenaton ao norte de Tebas, o grande templo tinha a planta composta por três quadrados. E, para todos os estes edifícios religiosos de base quadrada, a implantação no terreno se dava a partir do sistema da cordagem em forma de cerimônia religiosa. 2   

A grande pirâmide.
Fonte: blogdoelvio.blogspot.com

            Contemporâneos aos egípcios, os hebreus, quando voltaram para Israel, tiveram seus edifícios religiosos  inspirados pelo Divino, conforme citam as Escrituras: os projetos arquitetônicos orientavam-se conforme a vontade de Javé. A Arca da Aliança (Bíblia, Êxodo 37), o Tabernáculo (Bíblia, Êxodo 26), e o Templo edificado por Salomão (Bíblia, I Reis 6 – 8), eram projetos que tinham em comum soluções formais resgatadas da maneira egípcia de se construir: base quadrada, dimensões em números inteiros, medidas em côvados; uma vez que os hebreus foram escravos e trabalharam na construção de vários templos no Egito, já dominavam estas técnicas. Contudo, dentre tantos edifícios sagrados hebraicos, a configuração das plantas do Tabernáculo (quadrado duplo) e do Templo de Salomão (quadrado triplo) foi decisiva na continuidade do uso do quadrado como modulação na arquitetura. E destes dois edifícios religiosos citados na Bíblia, o mais emblemático é o Templo de Salomão, alvo durante as guerras bíblicas: Nabucodonosor em 585 a.C. invadiu Jerusalém, escravizou os hebreus e destruiu o Templo; Ciro, Rei da Pérsia, conquistou a Babilônia e autorizou os exilados em 538 a.C., a voltarem para a terra natal devolvendo os tesouros sagrados e reconstruindo o Templo de Salomão, porém na forma de um cubo de base quadrada de 60 por 60 côvados (Livro de Esdras 6, 3). A configuração quadrada para um templo também esteve presente na arquitetura persa, e seu resgate deu-se posteriormente com os Templários, na Idade Média 3 Voltarei  a falar sobre este assunto nas postagens futuras.
              Os estudos de Pitágoras relacionados à harmonia musical foram fundamentais para as construções gregas do século VI a.C. Apoiado pelas questões filosóficas das três dimensões, comprimento, altura e largura, o cubo foi considerado a forma perfeita e como tal, passou a ser utilizado nos templos sagrados no modo simples, duplo ou triplo. A filosofia e a matemática fizeram com que a geometria impregnasse o cotidiano grego,  e  a figura do cubo permeasse tanto a arquitetura quanto a religiosidade. Um exemplo clássico é a história dos delios, povos que nos tempos de Platão estavam sendo vitimados por uma peste, e ao consultarem um oráculo, foram desafiados a duplicar um dos altares cúbicos do recinto.  
             Finalizando a utilização do quadrado na antiguidade clássica, o tratado de Vitrúvio no século I a.C., proporcionou aos arquitetos romanos outros conceitos para a edificação de templos. Tomado pela geomântica antiga do microcosmo, passaram a ver o templo como o corpo humano. E os estudos do corpo humano fizeram com que as medidas dos espaços sagrados fosse nele baseada, e o desafio da geometria era chegar próximo à harmonia presente entre as partes do corpo humano. Além dessa ligação, a orientação astronômica dos templos intensificava a relação com o Cósmico, já que segundo eles, o homem era uma criação divina .
O homem vitruviano. Desenho desenvolvido na Idade Média.
Fonte: ROOB, Alexander. Alquimia & Mística, el museo hermético – Madri, Espanha: Taschen, 2005
Fontes:
1.  ROOB, Alexander. Alquimia & Mística, el museo hermético – Madrid, Espanha: Taschen, 2005. p.535.

2.   Cordagem: cerimônia religiosa em que se locavam as estruturas do edifício a partir de uma corda com doze intervalos, construindo-se ângulos retos pelo método do triângulo retângulo pitagórico: cateto 3, cateto 4 e hipotenusa 5. Este método assemelha-se a técnica utilizada ainda hoje para a verificação ou determinação de ângulos nos terrenos ou obras arquitetônicas. PENNICK, Nigel. Geometria Sagrada. SP. Editora Martins Fontes, 1980. c.4.

3. PENNICK, Nigel. Geometria Sagrada. SP. Editora Martins Fontes, 1980. p.59.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

" O nome da Rosa".


Depois de uma primeira semana de duro aprendizado, que tal continuar estudando, porém de uma forma mais relaxada? A dica é assistir "O nome da Rosa", filme inspirado no romance homônimo de 1980, do escritor italiano Umberto Eco. Na pelicula,  estranhas mortes começam a ocorrer num mosteiro beneditino localizado na Itália durante a baixa idade média - cerca de 1300 -,  onde as vítimas aparecem sempre com os dedos e a língua roxos. O mosteiro guarda uma imensa biblioteca, onde poucos monges tem acesso às publicações sacras e profanas. A chegada de um monge franciscano (Sean Conery), incumbido de investigar os casos, irá mostrar o verdadeiro motivo dos crimes, resultando na instalação do tribunal da santa inquisição. 
O filme permite diversos questionamentos, porém acredito que o mais interessante é entender o cenário histórico da época, o que possibilitará compreender motivos pelos quais os conhecimento de  geometria sagrada não nos são acessiveis nos dias atuais. Até são, mas a maneira como a igreja católica manipulou estas informações criou, de certa forma, o afastamento do homem da sede de entender  "simbologia"; o pensamento dominante, que queria continuar dominante, impedia que o conhecimento fosse acessível a quem quer que seja, salvo os escolhidos. No O nome da Rosa, a biblioteca era um labirinto e quem conseguia chegar no final, era morto. Só alguns tinham acesso, e a informação restrita a estes poucos representava dominação e poder.
          Desejo a todos um bom final de semana. Volto na próxima semana, contribuindo com o "poder" de voces a partir de textos sobre as antigas construções sagradas com base quadrada. Enquanto isso, saboreiem um trecho deste belíssimo filme...

  

Vale a pena ver também: http://www.coladaweb.com/literatura/analise-de-obras/o-nome-da-rosa