segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O quadrado

“O corpo humano perfeito e acabado se inscreve também em um quadrado,
pois quando está com os braços estendido e os pés juntos,
forma um quadrado regular cujo centro passa
exatamente pela parte mais baixa da genitária.”

Agrippa de Nettesheim, De occulta philosophia. 1


             
            Enquanto os edifícios sagrados de planta circular eram edificados com a ajuda do Divino através da luz solar que criava a vesica, o quadrado dependia apenas do trabalho do homem e o manuseio da corda dos treze nós; técnica já praticada nas artes pictóricas da civilização egípcia.  
             No antigo Egito, vários são os edifícios sagrados cuja figura do quadrado pode ser identificada; mas o uso desta forma na base da Grande Pirâmide o tornou mais evidente. Embora no volume do edifício sobressaia à forma triangular que aponta para o céu, o quadrado da base tem o caráter de estabilidade. No entanto, o edifício egípcio que foi significativo para a propagação da planta quadrada às demais construções religiosas foi o Templo de Aton. Construído pelo faraó Akhenaton ao norte de Tebas, o grande templo tinha a planta composta por três quadrados. E, para todos os estes edifícios religiosos de base quadrada, a implantação no terreno se dava a partir do sistema da cordagem em forma de cerimônia religiosa. 2   

A grande pirâmide.
Fonte: blogdoelvio.blogspot.com

            Contemporâneos aos egípcios, os hebreus, quando voltaram para Israel, tiveram seus edifícios religiosos  inspirados pelo Divino, conforme citam as Escrituras: os projetos arquitetônicos orientavam-se conforme a vontade de Javé. A Arca da Aliança (Bíblia, Êxodo 37), o Tabernáculo (Bíblia, Êxodo 26), e o Templo edificado por Salomão (Bíblia, I Reis 6 – 8), eram projetos que tinham em comum soluções formais resgatadas da maneira egípcia de se construir: base quadrada, dimensões em números inteiros, medidas em côvados; uma vez que os hebreus foram escravos e trabalharam na construção de vários templos no Egito, já dominavam estas técnicas. Contudo, dentre tantos edifícios sagrados hebraicos, a configuração das plantas do Tabernáculo (quadrado duplo) e do Templo de Salomão (quadrado triplo) foi decisiva na continuidade do uso do quadrado como modulação na arquitetura. E destes dois edifícios religiosos citados na Bíblia, o mais emblemático é o Templo de Salomão, alvo durante as guerras bíblicas: Nabucodonosor em 585 a.C. invadiu Jerusalém, escravizou os hebreus e destruiu o Templo; Ciro, Rei da Pérsia, conquistou a Babilônia e autorizou os exilados em 538 a.C., a voltarem para a terra natal devolvendo os tesouros sagrados e reconstruindo o Templo de Salomão, porém na forma de um cubo de base quadrada de 60 por 60 côvados (Livro de Esdras 6, 3). A configuração quadrada para um templo também esteve presente na arquitetura persa, e seu resgate deu-se posteriormente com os Templários, na Idade Média 3 Voltarei  a falar sobre este assunto nas postagens futuras.
              Os estudos de Pitágoras relacionados à harmonia musical foram fundamentais para as construções gregas do século VI a.C. Apoiado pelas questões filosóficas das três dimensões, comprimento, altura e largura, o cubo foi considerado a forma perfeita e como tal, passou a ser utilizado nos templos sagrados no modo simples, duplo ou triplo. A filosofia e a matemática fizeram com que a geometria impregnasse o cotidiano grego,  e  a figura do cubo permeasse tanto a arquitetura quanto a religiosidade. Um exemplo clássico é a história dos delios, povos que nos tempos de Platão estavam sendo vitimados por uma peste, e ao consultarem um oráculo, foram desafiados a duplicar um dos altares cúbicos do recinto.  
             Finalizando a utilização do quadrado na antiguidade clássica, o tratado de Vitrúvio no século I a.C., proporcionou aos arquitetos romanos outros conceitos para a edificação de templos. Tomado pela geomântica antiga do microcosmo, passaram a ver o templo como o corpo humano. E os estudos do corpo humano fizeram com que as medidas dos espaços sagrados fosse nele baseada, e o desafio da geometria era chegar próximo à harmonia presente entre as partes do corpo humano. Além dessa ligação, a orientação astronômica dos templos intensificava a relação com o Cósmico, já que segundo eles, o homem era uma criação divina .
O homem vitruviano. Desenho desenvolvido na Idade Média.
Fonte: ROOB, Alexander. Alquimia & Mística, el museo hermético – Madri, Espanha: Taschen, 2005
Fontes:
1.  ROOB, Alexander. Alquimia & Mística, el museo hermético – Madrid, Espanha: Taschen, 2005. p.535.

2.   Cordagem: cerimônia religiosa em que se locavam as estruturas do edifício a partir de uma corda com doze intervalos, construindo-se ângulos retos pelo método do triângulo retângulo pitagórico: cateto 3, cateto 4 e hipotenusa 5. Este método assemelha-se a técnica utilizada ainda hoje para a verificação ou determinação de ângulos nos terrenos ou obras arquitetônicas. PENNICK, Nigel. Geometria Sagrada. SP. Editora Martins Fontes, 1980. c.4.

3. PENNICK, Nigel. Geometria Sagrada. SP. Editora Martins Fontes, 1980. p.59.

Nenhum comentário:

Postar um comentário