quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O círculo.

“... e assim animou o mundo, ser vivo único que contém em
 si todos os seres à Sua semelhança (...) e imprimindo-lhe um movimento giratório,
lhe deu forma esférica (...) em outras palavras,
lhe deu a forma mais perfeita de todas.”

Platão, Timeu 33b, 410 a.C. 1


             A geometria, do latim, medição de terra, desenvolveu a possibilidade de manipular a medida, uma habilidade humana que nos tempos primitivos era considerada um ramo da magia. Nesse tempo a magia, a ciência e a religião eram de fato inseparáveis, e faziam parte do conjunto de habilidades possuídas pelo sacerdócio; e os primeiros “sacerdotes” realizavam seus cultos nos lugares onde a natureza era abundante, em que se podia sentir mais forte a presença do Divino. 2
            Com a evolução do homem no que diz respeito à sua capacidade de simbolizar, outros espaços passaram a ser utilizados com fins religiosos. Nestes espaços, pedras foram arranjadas, constituindo os monumentos neolítico, satisfazendo a necessidade do contato com o Criador através da verticalidade. Não só por isso mas também pela implantação em formato circular, forma primeira a ser desenhada pela raça humana, tanto pela sua simplicidade quanto pela possibilidade de ser reconhecida diversas vezes na natureza.

Stonehenge.  Fonte: espiritualismo.hostmach.com.br

            Os monumentos neolíticos já existiam pela Europa ocidental desde 6500 a.C., porém o mais intrigante é Stonehenge localizado em Wilthire, Inglaterra. Datado de 3000 a.C., a disposição de suas pedras está em círculos concêntricos em volta de uma forma de ferradura, sendo que o Sol nasce exatamente no ápice (solstício de verão), mostrando o preciso conhecimento astronômico que seus construtores possuíam. Além destas relações com o Sol, a presença de uma pedra central - que provavelmente era utilizada como altar -, reforça ainda mais o suposto uso para atividades religiosas. Embora seja a construção mais elaborada da época em toda a extensão das Ilhas Britânicas foram encontrados mais de 900 círculos de pedra chamados cromlechs, o que comprova a importância do círculo para esses fins.
              Inovação na planta arquitetônica grega, os túmulos Tolos foram edificados tendo como base a forma circular.  Sua aparição se deu por volta de 1600 a.C. no Peloponeso, no princípio do período chamado Heládico Tardio I. A forma circular da base  subia  em  formato  cônico formando o telhado, sendo a entrada da câmara através de um declive criado na parte frontal da construção. Após um período de interrupção, a construção de tolos é retomada em Delfos por volta do ano de 375 a.C.. Neste edifício, a mesma base circular com telhado cônico é construída de forma mais aprimorada, iluminada por meio de janelas na parte mais alta das paredes, e envolvida por quatorze colunas encerradas por capitéis coríntios.
                Muito semelhante aos túmulos primitivos Tolos gregos, as Stupas localizadas em Sanchi, Índia, construídas de 273-276 a.C., são monumentos dedicados a Buda. Eram originalmente montes de terra que guardavam relíquias de Buda ou de seus seguidores, desprovidas de símbolos, pois naquele momento a religião não permitia imagens, restando o caráter religioso apenas na forma circular ascendente, e no local de implantação já considerado sagrado. Com o passar do tempo, as stupas se tornaram mais complexas arquitetonicamente, porém o seu volume permaneceu igual.

Stupa de Sanchi. Fonte: indialine.com
            Embora o círculo já fosse utilizado na planta de alguns espaços sagrados, foi com a cúpula do Panteão de Roma (18 a 128 d.C.) que ele se consagrou. Construído pelo imperador Adriano para substituir o templo de Agripa, o edifício inicialmente dedicado a todos os deuses, impressionava por ser o primeiro projeto onde a estrutura (semi-esférica) havia sido capaz de proporcionar um vão livre espacialmente equilibrado. O efeito luminoso produzido pelo óculo localizado no ápice da cúpula, proporcionava o passeio de um facho de luz solar por cada um dos nichos dos deuses e juntamente com os detalhes de ouro dos caixotes da cúpula, que sugeriam estrelas do céu, dava ao prédio todo um simbolismo cósmico, satisfazendo o propósito inicial da obra – “O projeto de um anjo, não de um homem”, diria Michelangelo.  Com o passar dos tempos o edifício passou a ser utilizado para outros fins, mas foi  resgatado  pelos arquitetos renascentistas por atingir plenamente suas intenções; dar ênfase  ao poderia do Império Romano  por intermédio do volume plástico.

Notas
1. ROOB, Alexander. Alquimia & Mística, el museo hermético – Madrid, Espanha: Taschen, 2005. p.35
2. PENNICK, Nigel.Geometria Sagrada. SP. Editora Martins Fontes, 1980. pág. 7 e passim.
3. WALKER, Paul Robert. A disputa que mudou a renascença: como Brunelleschi e Ghibert marcaram a história da arte. RJ. Editora Record. 2005. p. 285.

3 comentários:

  1. O poder do homem sempre foi medido por sua riqueza e por quão próximo de Deus ele estaria,prova disso são as mais diferentes construções, magnificas.
    Nossa,rsss,meus pensamentos já começaram a viajar...bjs

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  2. Olá Leila. Em breve postarei sobre as pirâmides.. verá que seus pensamentos estão na direção correta. Beijao.

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  3. Achei muito bom o seu estudo sobre a foma circular na Arquitetura e o Sagrado o que estimula a estudá-la e também em outros pontos de vista- os do símbolos na Psicologia Analítica de Jung, na teoria dos Signos de Pierce, na Antropologia, e talvez em muitas outras áreas. Seria um vasto estudo,que poderia interessar a muitos.

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