segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A origem das Igrejas Católicas Modernas.

“(...) o então bispo Dom Jaime Luiz Coelho, inspirado pelo pioneiro foguete Sputnik, revoluciona a arquitetura eclesiástica e constrói a nova Catedral Nossa Senhora da Glória com uma forma cônica,com o vértice apontado para o céu, querendo que esta fosse um convite a toda a população, que sempre estivesse voltada para o céu, para Deus”.
Selson Garutti.1. 
Diferente do Catolicismo, o Protestantismo, se ateve às questões dogmáticas, não gerando uma tipologia arquitetônica própria.  Seus fundadores preferiram edificações livres de ornamentos: adaptações simplórias das antigas igrejas católicas, utilizadas para dar maior credibilidade à nova doutrina. No Brasil, os Protestantes – posteriormente denominados evangélicos –, construíram os primeiros templos com inspiração neogótica. Ainda que em meados do século XIX, um movimento interno no protestantismo reivindicou prédios mais compatíveis com as diretrizes da nova Igreja, esses templos foram construídos focalizando leitura e reunião, e não o sacrifício do altar. O projeto destes se assemelhava a anfiteatros e auditórios, uma arquitetura “deliberadamente não-eclesiástica, sem altar, sem tabernáculo e sem presbitério” 2.

Igreja Anglicana de São Paulo. RJ.
foto: Leo Mendes. www.flickr.com

A nova doutrina ameaçou a Igreja Católica, iniciando um movimento arquitetônico  moderno. “Após a II Guerra Mundial, os católicos começaram a experimentar novas formas e configurações. [...] Algumas destas experiências foram inspiradas pelo movimento liturgicista católico, e dirigidas por líderes da arte e da arquitetura modernista [...]. A estatuária foi evitada, a estrutura de basílica foi descartada e o sagrado não foi mais diferenciado do profano. Utilizando linhas retas e geometrias abstratas, arquitetos como Rudolph Schwartz e Dominikus Bohm criaram ‘espaços de culto’ frios e secos muito antes que estas experiências atingissem o seu auge nas décadas que seguiram o Concílio Vaticano II” 3 . Nessas “experiências”, os sentimentos de a piedade e unção sobrenatural desapareceram.

Os novos edifícios católicos continuavam nascendo, e alguns são exemplos bem claros do que o novo programa de necessidades impunha. Independente do adjetivo que cada espectador deu, as Igrejas projetadas a partir de 1950 são edificações que sempre nos despertarão algum sentimento: amor ou ódio.  O arquiteto suíço Le Corbusier criou dois exemplos típicos da nova arquitetura em sintonia com a nova teologia, sendo a Notre Dame du Haut (1950-1954) em Ronchamp, França, o exemplo mais claro de uma igreja desenhada como uma escultura abstrata.  A capela está implantada em platô no topo de uma colina, sobre as ruínas de um santuário datado da Idade Média e dedicado à Virgem Maria, destruído pelos bombardeios em setembro de 1944. A edificação possui paredes grossas e curvilíneas, que apoiam a cobertura em concreto de formato escultural. Nestas paredes pequenas vãos permitem o acesso da luz, em janelas irregulares e vindas das três torres claras. A luz é naturalmente controlada, realçando o interior sem ofuscar o usuário.

Notre Dame du Haut, Le Corbusier. Interior.
Notre dame du haut, Le Corbusier. Fachada.

 "A cobertura foi posta sobre paredes grossas. Dentro delas entretanto estão as colunas do concreto reforçado. O telhado descansará nestas colunas mas não tocará na parede. Uma fenda horizontal de luz com dez centímetros de altura surpreenderá."— Le Corbusier. 4.

Convento Dominicano de La Tourette, Le Corbusier. Interior.

Outro edificio projetado pelo mesmo arquiteto é o do Mosteiro Dominicano de La Tourette (1951). Em suas teses, Le Corbusier sustentava que a casa é uma “máquina para morar”, portanto máquina e não a figura humana, seria o paradigma para a arquitetura. Este critério foi aplicado na arquitetura eclesiástica católica dos anos 1960, e apoiado pela Igreja que, em seu novo movimento litúrgico, acreditava que o  espaço sagrado deveria explorar os materiais e os métodos modernos. Assim, a maioria das obras desta época foram construidas com aço, vidro e concreto, desenhadas como grosseiras massas, obedecendo à forma de conchas, navios, arcas e outros temas náuticos; zigurates, naves espaciais, colméias, toldos de índio, artefatos para pouso lunar, e vários tipos de origami. 5.

Convento Dominicano de La Tourette, Le Corbusier. Fachada.

Catedral de Maringá, José Augusto Belucci. Interior.

No Brasil, seguindo a tendência modernista católica, estavam sendo projetadas a Catedral Metropolitana de São Sebastião, RJ, edificação cônica que lembra ela os templos babilônicos, dos quais o maior foi a Torre de Babel, a Catedral de Brasília, comparada por autores à reservatórios de água, e a Catedral de Maringá, cuja forma cônica reporta-se ao satélite soviético Sputnik, lançado em 1957. 6

Catedral de Maringá, José Augusto Belucci. Fachada.

Notas:
1. GARUTTI, Selson. ANAIS DO II ENCONTRO NACIONAL DO GT HISTÓRIA DAS RELIGIÕES E DAS RELIGIOSIDADES.  Revista Brasileira de História das Religiões – ANPUH Maringá (PR) v. 1, n. 3, 2009. ISSN 1983-2859.  Disponível em http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pub.html .
2. ROSE, Michael S. In Tiers of Glory: the Organic Development of Catholic Church Architecture Through the Ages, Mesa Folio Editions, 2004, P. 99.
3. ROSE, Michael S. In Tiers of Glory: the Organic Development of Catholic Church Architecture Through the Ages, Mesa Folio Editions, 2004, P. 100 e passim.

4. Aos 63 anos, Le Corbusier inicia a reconstrução da capela Notre-Dame-du-Haut a Ronchamp. Seria seu primeiro projeto de um edifício religioso, apesar de ter trabalhado em 1929 nas plantas da igreja de Tremblay. Em um primeiro momento, Le Corbusier declina o projeto, mas desta vez além de um excelente local para implantar a capela, Le Corbusier tem carta branca da Igreja para desenvolver sua liberdade criativa. Lírico, sobre a beleza do terreno, ele disse : “ Eu nunca havia feito algo religioso, mas quando eu me vi diante destes quatro horizontes, não pude hesitar”. A arquitetura fina e curvilínea da capela é surpreendente pelo que se via de Le Corbusier, um arquiteto racionalista que acreditava apenas no ângulo reto. A capela é repleta de contradições arquitetônicas, ao mesmo tempo quadrada e redonda, alongada e contida, baixa e alta. Segundo Christophe Cousin, o diretor do Museu de arte e história de Belfort,: “ Ela possui uma planta muito simples, mas quando estamos no local, não é nem um pouco evidente”. Vasta e aberta sobre o exterior, ela se torna um local pequeno de recolhimento. Com o branco brilhante de seus muros externos, parece definir seu criador, para o qual: “ a emoção arquitetural é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes sobre a luz”.  
Por esta contradição à arquitetura de linhas retas de Corbusier e ao fato de este ser ateu, a capela de Ronchamp foi uma das obras que causaram mais polêmica e dificuldade de assimilação pela crítica, tanto por parte dos arquitetos , quanto pelo público. Segundo Charles Jencks a capela representa um momento irônico de Le Corbusier, o desenho da capela parte de um sistema ortogonal: o cubo. No entanto este é distorcido, empurrado para dentro em três das faces, distorcido em direção ao sul e rebaixado em seu teto em direção à nave. Assim, o sentimento no interior é o oposto das igrejas de então, onde as grandes alturas das naves evidenciam a distância entre o mortal e a divindade.[4] O crítico americano Mumford e outros, viram em Ronchamp um regresso ao passado e à plasticidade, o inglês James Stirling considerou a obra como um indício da crise do racionalismo. Fonte: www.wikipedia.org.br
5. “[...] com seus espaços áridos e opressivos, (o Mosteiro Dominicano de le Corbusier) foi um fracasso monumental” ROSE, Michael S. In Tiers of Glory: the Organic Development of Catholic Church Architecture Through the Ages, Mesa Folio Editions, 2004, P. 100 e passim.
6. ROSE, Michael S. In Tiers of Glory: the Organic Development of Catholic Church Architecture Through the Ages, Mesa Folio Editions, 2004, P. 100 e passim

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