quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Entendendo a simbologia das formas geométricas na prática.

                 " (...) Assim, uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma coisa
 além do seu significado manifesto e imediato. (...) Quando a mente explora um símbolo,
é conduzida a idéias que estão fora do alcance de nossa razão. A imagem de uma roda pode levar nossos pensamentos ao
conceito de um sol " divino"mas, neste ponto, nossa razão vai confessar a sua incompetência:
o homem é incapaz de descrever um ser "divino". Quando, com toda limitação intelectual, chamamos alguma coisa de "divina",
 estamos dando-lhe apenas um nome, que poderá estar baseado em uma crença, mas nunca em uma
evidência concreta."
JUNG, Carl. O homem e seus símbolos. p.19.

               Sendo a geometria a atividade de medição da terra, o caráter símbólico que as formas geométrias assumiram ao longo do tempo teve sua raíz em experiências práticas durante medições ou mesmo tarefas práticas na construção dos primeiros espaços sagrados. Embora a postagem anterior explicava a importância da figura do círculo, não consigo justificar sua importância simbólica sem antes explicar como o homem traçava um quadrado no solo. 
              Não se sabe ao certo a data ou a civilização que criou o sistema de desenho do quadrado no solo, porém o método, denominado "cordagem", foi constantemente usado na antiguidade clássica, aparecendo também nos estudos matemáticos de Pitágoras. Consistia em uma corda com 13 nós - ou 12 intervalos iguais - onde se obtinha um quadrado perfeito criando 4 lados de 3 intervalos cada. Para obtenção de um ângulo reto,  seguia-se o teorema de Pitágoras construindo um triângulo retângulo de lados 3 e 4 e hipotenusa igual a 5 intervalos.  


Teorema de Pitágoras e sua representação através do sistema de cordagem.
Fonte:  anossaescola.com  e  marimath.blogspot.com
  
            Deste modo, a figura do quadrado dependia exclusivamente do trabalho do homem para ser construída e por isso ficou sendo a forma representativa da terra. E não somente por representar o Microcosmo e mundo terreno, por uma questão prática os templos antigos eram freqüentemente construídos tendo como base o quadrado: sendo uma figura única, podia ser dividido por dois ou múltiplos de dois, facilitando a modulação e o desenvolvimento do projeto. 
             A metodologia para o traçado do quadrado estava dominada. Contudo restava criar um método tão eficaz quanto este para desenhar o círculo no solo e, embora o homem já soubesse manusear os metais, não conseguia concluir uma ferramenta capaz de marcar um perfeito círculo no piso. Foi aí que entrou a ação "divina". O homem percebeu que a projeção da sombra de uma pedra  - ou mesmo uma estaca - no solo, possibilitava traçar um circulo através da incidência da luz solar conforme as horas passavam. O método, denominado vesica, foi o responsável pela determinação do simbolismo da divindade para a figura do círculo, que já estava como que determinada a este fim até mesmo pela sua presença na forma dos astros e planetas. As plantas circulares dos lugares sagrados da Antiguidade foram todas desenhadas com esta metodologia, que obrigava o homem a passar quase todo o dia riscando a sombra da estaca sob a influência direta da "luz divina", prostrado em atividade meditativa já no processo construtivo do espaço.

esquema construtivo da Vesica e o Sol.

Fonte: croquis e foto de acervo particular.

             Com o passar do tempo, a metodologia de traçado do círculo e do quadrado na terra mudou de tarefa imposta para opcional, redobrando a carga simbólica quando utilizada para principios religiosos.  Nos próximos tópicos veremos seu uso até os dias atuais, quando arquitetos resgataram estas formas geométricas não só pela simbologia intrinseca mas, principalmente, pela emoção teatral forçada que o uso da vesica e da cordagem aplicado a projetos contemporâneos pode proporcionar.

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