quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Em tempos modernos, Igrejas Católicas modernas!

Ainda que entendamos a arquitetura como ofício de um artista, ele tem a liberdade da composição estética, mas deve seguir um programa de necessidades, idealizado pelo cliente.  Diferente dos complexos programas das igrejas antigas, nos modernos templos sagrados católicos a liberdade impera. Não há mais lugar sagrado, o presbitério não se distingue mais da nave, nem precisamos mais de transepto: a Igreja se reduziu a mais um local de reunião,e  cabe ao arquiteto concebê-lo da forma mais conveniente.

Quando existem exigências, elas fogem totalmente do que era o catolicismo originalmente. Nos anos 1980, por exemplo, o movimento progressista exaltou o batismo de imersão, exigindo a existência de uma banheira próxima ao altar. Na verdade, a pia batismal “desde o Vaticano II, tinha girado um pouco por toda a igreja.” 1   De início, os litúrgicos julgavam fundamental que ela ficasse bem visível, mas naquele momento, o consenso era que a visibilidade era o menos importante.

Nos anos 1990, tornou-se moda incluir obras de arte temporárias de “símbolos universalmente reconhecíveis”, sejam eles pagãos, gnósticos ou políticos. Para a nova composição visual, a ambientação e o mobiliário também tiveram que ser revisitados. As cadeiras agora circundariam o altar. Não haveria genuflexórios, e as poltronas – extremamente confortáveis – seriam convites a posturas mais relaxadas como cruzada de pernas, pois posturas informais calhavam bem com a atmosfera criada pela nova decoração. Como não haveria um ponto monárquico – já que o altar poderia estar mais baixo e o sacerdote, quando sentado desapareceria – o silencio sacramental não tinha porque existir também: no lugar dele, burburinho e bate-papo entre os fiéis. Uns procuram amigos e parentes com o olhar, e trocam “tchauzinhos”. Se alguém estava lendo, só se ficaria sabendo por causa das caixas de som.

No altar, nenhuma referência ao sacrifício, assemelhando-se a uma mesa de jantar. Não há iconografia sacrifical, e poucas vezes um Crucifixo destacado — as igrejas modernas evitam os símbolos católicos como o Crucifixo ou a cruz latina, e quando elas existem estarão como um signo a ser decifrado. Na hora da comunhão, muitos leigos distribuindo as hóstias, se colocando nos mais diversos lugares do salão. Ainda sobre o presbitério, nas últimas décadas o Santíssimo Sacramento foi levado para uma sala à parte. O tabernáculo do novo estilo pode assemelhar-se a uma gaiola de passarinhos ou até a um totem. Outros são cilíndricos ou cônicos, conhecidos como “torres do sacramento”. O ambiente em torno nada tem de sacral, acolhedor, nobre ou elevado, e não convida à adoração.

Seguindo esta tendência, no ano 2000, três projetos visaram marcar a arquitetura católica do novo milênio. O primeiro foi a Igreja do Jubileu 2000, em Roma, projeto do arquiteto Richard Meier.  Reúne uma “série de paredes de concreto retilíneas e curvilíneas recheadas com vidro, todas num plano horizontal, como se o prédio pudesse ser arrancado qualquer dia e transportado a alguma outra superfície”  2.  Embora seu projeto seja fantástico do ponto de vista estrutural, para os críticos está longe da tradição católica, se assemelhando a Opera de Sydney ou uma sala protestante.

Igreja do Jubileu, Roma.

O segundo projeto foi o da Catedral de Nossa Senhora dos Anjos, em Los Angeles, EUA. Teve-se em vista uma catedral que “com o seu aspecto grosseiramente volumoso, contrastes agudos, estrutura assimétrica desprovida de ângulos retos, rompesse deliberadamente com a continuidade histórica de dois milênios de arquitetura católica para as igrejas. Mas paga tributo aos últimos cinqüenta anos de estruturas para escritório, banais e sem inspiração, que têm poluído a paisagem do centro de Los Angeles e da maioria das outras cidades americanas” . 3  O interior tem a monumentalidade das construções tradicionais católicas, mas a complexidade de ângulos tira a atenção do fiel,  impossibilitando a reflexão ou espiritualidade que o projeto de uma Igreja deve despertar.


Catedral Nossa Senhora dos Anjos, Los Angeles, E.U.A.

A terceira tentativa projetual foi a Catedral Cristo da Luz, em Oakland, Califórnia. O projeto vencedor do escritório Skidmore, Owings & Meril L.P., propôs “uma concha gigante semi-aberta, uma caixa torácica ou pança de uma baleia. Foi a primeira catedral que iria ter um teto retrátil. [...] "The San Francisco Chronicle" descreveu a proposta como ‘uma estrutura de costelas de aço pintado, vidro e concreto, que parece tão futurista como os restos de um esqueleto de uma criatura pré-histórica corcunda’4. O edifício não passa despercebido, e tem a força plástica das maiores Igrejas Católica além de um interior muito harmonioso, contudo a simbologia religiosa não fica evidente nem no interior, nem no exterior da edificação.



Igreja Crista da Luz, Califórnia. E.U.A.

Notas:

 105.
1. Conforme escreveu a consultora de desenho litúrgico Christine Reinhard. 1. ROSE, Michael S., Ugly as Sin — Why they changed our churches from sacred places to meeting spaces and how we can change them back again, Sophia Institute Press, Manchester, NH, 2001. P.
2. ROSE, Michael S. Tiers of Glory: the Organic Development of Catholic Church Architecture Through the Ages, Mesa Folio Editions, 2004. P.104.

3. ROSE, Michael S. Tiers of Glory: the Organic Development of Catholic Church Architecture Through the Ages, Mesa Folio Editions, 2004.

4. ROSE, Michael S. Tiers of Glory: the Organic Development of Catholic Church Architecture Through the Ages, Mesa Folio Editions, 2004. P.106 e passim.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A origem das Igrejas Católicas Modernas.

“(...) o então bispo Dom Jaime Luiz Coelho, inspirado pelo pioneiro foguete Sputnik, revoluciona a arquitetura eclesiástica e constrói a nova Catedral Nossa Senhora da Glória com uma forma cônica,com o vértice apontado para o céu, querendo que esta fosse um convite a toda a população, que sempre estivesse voltada para o céu, para Deus”.
Selson Garutti.1. 
Diferente do Catolicismo, o Protestantismo, se ateve às questões dogmáticas, não gerando uma tipologia arquitetônica própria.  Seus fundadores preferiram edificações livres de ornamentos: adaptações simplórias das antigas igrejas católicas, utilizadas para dar maior credibilidade à nova doutrina. No Brasil, os Protestantes – posteriormente denominados evangélicos –, construíram os primeiros templos com inspiração neogótica. Ainda que em meados do século XIX, um movimento interno no protestantismo reivindicou prédios mais compatíveis com as diretrizes da nova Igreja, esses templos foram construídos focalizando leitura e reunião, e não o sacrifício do altar. O projeto destes se assemelhava a anfiteatros e auditórios, uma arquitetura “deliberadamente não-eclesiástica, sem altar, sem tabernáculo e sem presbitério” 2.

Igreja Anglicana de São Paulo. RJ.
foto: Leo Mendes. www.flickr.com

A nova doutrina ameaçou a Igreja Católica, iniciando um movimento arquitetônico  moderno. “Após a II Guerra Mundial, os católicos começaram a experimentar novas formas e configurações. [...] Algumas destas experiências foram inspiradas pelo movimento liturgicista católico, e dirigidas por líderes da arte e da arquitetura modernista [...]. A estatuária foi evitada, a estrutura de basílica foi descartada e o sagrado não foi mais diferenciado do profano. Utilizando linhas retas e geometrias abstratas, arquitetos como Rudolph Schwartz e Dominikus Bohm criaram ‘espaços de culto’ frios e secos muito antes que estas experiências atingissem o seu auge nas décadas que seguiram o Concílio Vaticano II” 3 . Nessas “experiências”, os sentimentos de a piedade e unção sobrenatural desapareceram.

Os novos edifícios católicos continuavam nascendo, e alguns são exemplos bem claros do que o novo programa de necessidades impunha. Independente do adjetivo que cada espectador deu, as Igrejas projetadas a partir de 1950 são edificações que sempre nos despertarão algum sentimento: amor ou ódio.  O arquiteto suíço Le Corbusier criou dois exemplos típicos da nova arquitetura em sintonia com a nova teologia, sendo a Notre Dame du Haut (1950-1954) em Ronchamp, França, o exemplo mais claro de uma igreja desenhada como uma escultura abstrata.  A capela está implantada em platô no topo de uma colina, sobre as ruínas de um santuário datado da Idade Média e dedicado à Virgem Maria, destruído pelos bombardeios em setembro de 1944. A edificação possui paredes grossas e curvilíneas, que apoiam a cobertura em concreto de formato escultural. Nestas paredes pequenas vãos permitem o acesso da luz, em janelas irregulares e vindas das três torres claras. A luz é naturalmente controlada, realçando o interior sem ofuscar o usuário.

Notre Dame du Haut, Le Corbusier. Interior.
Notre dame du haut, Le Corbusier. Fachada.

 "A cobertura foi posta sobre paredes grossas. Dentro delas entretanto estão as colunas do concreto reforçado. O telhado descansará nestas colunas mas não tocará na parede. Uma fenda horizontal de luz com dez centímetros de altura surpreenderá."— Le Corbusier. 4.

Convento Dominicano de La Tourette, Le Corbusier. Interior.

Outro edificio projetado pelo mesmo arquiteto é o do Mosteiro Dominicano de La Tourette (1951). Em suas teses, Le Corbusier sustentava que a casa é uma “máquina para morar”, portanto máquina e não a figura humana, seria o paradigma para a arquitetura. Este critério foi aplicado na arquitetura eclesiástica católica dos anos 1960, e apoiado pela Igreja que, em seu novo movimento litúrgico, acreditava que o  espaço sagrado deveria explorar os materiais e os métodos modernos. Assim, a maioria das obras desta época foram construidas com aço, vidro e concreto, desenhadas como grosseiras massas, obedecendo à forma de conchas, navios, arcas e outros temas náuticos; zigurates, naves espaciais, colméias, toldos de índio, artefatos para pouso lunar, e vários tipos de origami. 5.

Convento Dominicano de La Tourette, Le Corbusier. Fachada.

Catedral de Maringá, José Augusto Belucci. Interior.

No Brasil, seguindo a tendência modernista católica, estavam sendo projetadas a Catedral Metropolitana de São Sebastião, RJ, edificação cônica que lembra ela os templos babilônicos, dos quais o maior foi a Torre de Babel, a Catedral de Brasília, comparada por autores à reservatórios de água, e a Catedral de Maringá, cuja forma cônica reporta-se ao satélite soviético Sputnik, lançado em 1957. 6

Catedral de Maringá, José Augusto Belucci. Fachada.

Notas:
1. GARUTTI, Selson. ANAIS DO II ENCONTRO NACIONAL DO GT HISTÓRIA DAS RELIGIÕES E DAS RELIGIOSIDADES.  Revista Brasileira de História das Religiões – ANPUH Maringá (PR) v. 1, n. 3, 2009. ISSN 1983-2859.  Disponível em http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pub.html .
2. ROSE, Michael S. In Tiers of Glory: the Organic Development of Catholic Church Architecture Through the Ages, Mesa Folio Editions, 2004, P. 99.
3. ROSE, Michael S. In Tiers of Glory: the Organic Development of Catholic Church Architecture Through the Ages, Mesa Folio Editions, 2004, P. 100 e passim.

4. Aos 63 anos, Le Corbusier inicia a reconstrução da capela Notre-Dame-du-Haut a Ronchamp. Seria seu primeiro projeto de um edifício religioso, apesar de ter trabalhado em 1929 nas plantas da igreja de Tremblay. Em um primeiro momento, Le Corbusier declina o projeto, mas desta vez além de um excelente local para implantar a capela, Le Corbusier tem carta branca da Igreja para desenvolver sua liberdade criativa. Lírico, sobre a beleza do terreno, ele disse : “ Eu nunca havia feito algo religioso, mas quando eu me vi diante destes quatro horizontes, não pude hesitar”. A arquitetura fina e curvilínea da capela é surpreendente pelo que se via de Le Corbusier, um arquiteto racionalista que acreditava apenas no ângulo reto. A capela é repleta de contradições arquitetônicas, ao mesmo tempo quadrada e redonda, alongada e contida, baixa e alta. Segundo Christophe Cousin, o diretor do Museu de arte e história de Belfort,: “ Ela possui uma planta muito simples, mas quando estamos no local, não é nem um pouco evidente”. Vasta e aberta sobre o exterior, ela se torna um local pequeno de recolhimento. Com o branco brilhante de seus muros externos, parece definir seu criador, para o qual: “ a emoção arquitetural é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes sobre a luz”.  
Por esta contradição à arquitetura de linhas retas de Corbusier e ao fato de este ser ateu, a capela de Ronchamp foi uma das obras que causaram mais polêmica e dificuldade de assimilação pela crítica, tanto por parte dos arquitetos , quanto pelo público. Segundo Charles Jencks a capela representa um momento irônico de Le Corbusier, o desenho da capela parte de um sistema ortogonal: o cubo. No entanto este é distorcido, empurrado para dentro em três das faces, distorcido em direção ao sul e rebaixado em seu teto em direção à nave. Assim, o sentimento no interior é o oposto das igrejas de então, onde as grandes alturas das naves evidenciam a distância entre o mortal e a divindade.[4] O crítico americano Mumford e outros, viram em Ronchamp um regresso ao passado e à plasticidade, o inglês James Stirling considerou a obra como um indício da crise do racionalismo. Fonte: www.wikipedia.org.br
5. “[...] com seus espaços áridos e opressivos, (o Mosteiro Dominicano de le Corbusier) foi um fracasso monumental” ROSE, Michael S. In Tiers of Glory: the Organic Development of Catholic Church Architecture Through the Ages, Mesa Folio Editions, 2004, P. 100 e passim.
6. ROSE, Michael S. In Tiers of Glory: the Organic Development of Catholic Church Architecture Through the Ages, Mesa Folio Editions, 2004, P. 100 e passim

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Anjos e Demônios, livro (2004) e filme (2009)

Antes de decifrar 'O Código Da Vinci', Robert Langdon, o famoso professor de simbologia de Harvard, vive sua primeira aventura em 'Anjos e Demônios', quando tenta impedir que uma antiga sociedade secreta destrua a Cidade do Vaticano. Às vésperas do conclave que vai eleger o novo Papa, Langdon é chamado às pressas para analisar um misterioso símbolo marcado a fogo no peito de um físico assassinado em um grande centro de pesquisas na Suíça. Ele descobre indícios de algo inimaginável - a assinatura macabra no corpo da vítima - um ambigrama que pode ser lido tanto de cabeça para cima quanto de cabeça para baixo - é dos Illuminati, uma poderosa fraternidade considerada extinta há quatrocentos anos. A antiga sociedade ressurgiu disposta a levar a cabo a lendária vingança contra a Igreja Católica, seu inimigo mais odiado. De posse de uma nova arma devastadora, roubada do centro de pesquisas, ela ameaça explodir a Cidade do Vaticano e matar os quatro cardeais mais cotados para a sucessão papal. Correndo contra o tempo, Langdon voa para Roma junto com Vittoria Vetra, uma bela cientista italiana. Numa caçada frenética por criptas, igrejas e catedrais, os dois desvendam enigmas e seguem uma trilha que pode levar ao covil dos Illuminati - um refúgio secreto onde está a única esperança de salvação da Igreja nesta guerra entre ciência e religião.
Em 'Anjos e Demônios', Dan Brown demonstra novamente sua extraordinária habilidade de entremear suspense com fascinantes informações sobre ciência, religião e história da arte, despertando a curiosidade dos leitores para os significados ocultos deixados em monumentos e documentos históricos. Na semana em que estamos estudando a tradição arquitetônica católica, vale a pena assitir a este intrigante filme de ação.
Abaixo, o trailler do filme. Bom fim de semana!


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Igrejas antigas: arquitetura fiel à tradição bíblica e canônica.

“A arquitetura da igreja afeta o modo mediante o qual o homem pratica o culto;
o modo de prestar culto afeta o que ele crê; e o que ele crê afeta não somente sua relação pessoal com Deus,
 mas o modo como se comporta na vida diária” 1.

Não diferente do que aconteceu em outras religiões, grande parte das normas adotadas no regulamento da Igreja Católica seguem os textos apresentados no Livro Sagrado, neste caso, a Bíblia. Em diversos momentos, também para a arquitetura tais Escrituras servem como referencia, já que de forma clara apresentaram o modo como os arquitetos antigos desenvolviam os Templos Sagrados, inspirados todas as vezes na Vontade Divina. Para o Catolicismo, foi assim com o Moisés e sua "tenda" para a Arca da Aliança e com Salomão e o projeto do primeiro Templo em Jerusalém.  2  
 
Templo de Salomão, reconstuição em maquete.
Nota-se a presença de dois quadrados já na planta baixa do edifício.
 
Após um período escondidos devido à proibição dos cultos, quando os cristãos voltaram a ter o direito de vivenciar sua fé, a busca por uma arquitetura que fosse perfeita para o modo ritualístico católico os levou até as basílicas. Estes edifícios, já famosos na tradição romana, eram as construções mais próximas do templo ideal. Possuíam cinco naves e uma ábside reservada para os magistrados, cujo chão era elevado. A grandiosidade das naves abrigaria um número considerável de cristãos, e a ábside parecia ideal para o destaque do dirigente da celebração. Os cristãos acrescentaram um transepto para que a planta do edifício formasse uma cruz, e no cruzamento dos braços da cruz instalaram o altar. 3

Igreja Santa Maria Maggiore, Roma.
Edificio católico que se apropriou de uma basílica romana.


Essas basílicas "cristianizadas" constituíram o ponto de partida para as próximas edificações sagradas católicas. Na continuidade, os acontecimentos históricos impuseram outros programas de necessidades que, por sua vez, somados à nova tecnologia, ocasionaram a criação de novas tipologias e estilos estéticos arquitetônicos. A força da Igreja Católica no periodo medieval foi tão grande que determinou os movimentos artíticos mais importantes da história da humanidade; românico, gótico e barroco, em termos gerais foram apenas alterações na arquitetura religiosa católica, forçadas ou por mudanças nas diretrizes da Igreja ou mesmo pela adaptação do culto religioso a um novo momento social. 
Igreja de São Francisco, Bahia.
Exemplar de igreja barroca no Brasil.
O século XIX resgatou todas as tipologias, misturando todos os estilos decorativos, e até viu renascer o gótico. A variedade foi pasmosa, mas o espírito e o ambiente das Igrejas continuou sempre marcado pelo respeito aos princípios da tradição arquitetônica católica. 


Notas:
1.  ROSE, Michael S. Ugly as sin.Sophia Institute Pr.  Capítulo 7.1° Edição. EUA. 2009.
2. Biblia Sagrada. Livro do Êxodo, capitulo 25. - sobre a Arca da Aliança;  Livro I Reis, capítulos 6. - sobre o projeto do Templo de Salomão.
3. Em Roma, as Igrejas São Paulo fora dos Muros, São João de Latrão e Santa Maria Maggiore são igrejas edificadas a partir da adaptação de basílicas romanas.
4. Neste blog apresentamos apenas os aspectos ligados a arquitetura. Como tal, vale a pena reforçar as diferenças entre os três principais momentos arquitetônicos importantes  do Catolicismo. No Românico, a planta continua sendo basilical, e o teto plano foi substituído pelos arcos de berço que nos remetem à abóbada celeste. As construções com paredes espessas remetia á segurança necessária neste momento de invasões. Posteriormente no Gótico, o teto com arcos ogivais proporcionou alturas grandiosas - tendência á verticalidade, manifestação física de uma vontade imposta pela Igreja Católica no período. O interior com luminosidade teatral reforçava os dogmas de fé em um momento que a Igreja lutava com as "ofertas da vida profana" por seus fiéis. A tipologia Barroca deu ênfase ao movimento, ás cores e à estatuária, manifestando aos fiéis a proximidade do mundo sobrenatural com o terreno. Luminoso e acolhedor, contrapôs-se á visão do protestantismo, cinzenta e utilítária.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O Código da Vinci, livro (2003) e filme (2006)

Capa da edição original, em inglês.

"The Da Vinci Code" ("O Código Da Vinci" nas edições brasileiras e portuguesas) é um romance policial do escritor norte-americano Dan Brown, publicado em 2003, causou polêmica no mundo católico ao questionar a divindade de Jesus Cristo. A maior parte do livro desenrola-se a partir do assassinato de Jacques Saunière, curador do museu do Louvre, que antes de morrer deixa várias pistas relacionadas a segredos místicos nunca antes revelados. Robert Langdon, Sophie Neveu e Leigh Teabing vivem várias aventuras ao tentar desvendar códigos que dêem resposta aos enigmas que Jacques Saunière deixou no leito de morte.
A trama do livro envolve desde grandes organizações católicas como o Opus Dei, até a sociedade secreta conhecida como Priorado de Sião, que, de acordo com documentos encontrados na Biblioteca Nacional de Paris, possuía inúmeros membros famosos como Sir Isaac Newton, Botticelli, Victor Hugo e Leonardo da Vinci. Os cenários onde as pistas se escondem estão em sua maioria em edificações centenárias de uso restrito da religião católica, aspecto este que vai muito de encontro com a temática abordada neste blog.

Polêmicas a parte, o livro e o filme surgem como excelentes aulas de Geometria e Arquitetura Sagrada. Vale a pena ter um dos exemplares em sua coleção particular.

Abaixo, um trecho do filme. Bom divertimento!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Templos Católicos: feiura do pecado X antecâmaras do céu

“ As igrejas modernas criam um ambiente que leva à perda da fé.
Em sentido contrário, as igrejas antigas, fiéis à tradição, estimulam a fé e a piedade,
tornam atraente a virtude e alimentam o desejo do céu.”
Luis Dufaur, escritor.

Há tempos vinha buscando uma referência bibliográfica que estivesse de encontro com o que penso sobre a produção arquitetônica católica atual. Diferente do que acontece com os livros de outras religiões, o que constantemente eu achava era um caderninho repleto de anotações ligadas aos “encontros místicos particulares”, em que a análise formal da edificação ficava abafada ou por “momentos de sublime espiritualidade”, ou por medo de ser tachado como “herege”, seguindo de um processo de expulsão da paróquia, ou um dolorido “puxão de orelha” do padre.

Contudo, cada vez que me deparava com mais um novo projeto para Igreja Católica, não me conformava com o rumo que a arquitetura desta religião ia seguindo. A vivência de um  curto – mas profundo - período como católico, me permitia entender que, em parte, as mudanças estruturais ocorridas nos Concílios do século XX na tentativa de atrair mais fiéis, acabavam eliminando o que mais interessante os templos católicos possuíam. A emoção que esta arquitetura específica despertava nos seus adeptos ia sendo destruída, causando, ao meu ver, o efeito contrário: a expulsão cada vez maior dos jovens fiéis. Claro que este fenômeno não pode ser analisado somente do ponto de vista arquitetônico,  mas, como neste blog comento especificamente de Arquitetura Sagrada, devo apresentar apenas este aspecto.

A certeza que tinha de que o empobrecimento da arquitetura das Igrejas repercutia diretamente na quantidade de fiéis católicos, foi reforçada quando encontrei dois livros do arquiteto Michael S. Rose, doutor em Belas Artes da Brown University, nos Estados Unidos. Em suas publicações – “Ugly us sin” de 2009 e “In tiers of glory” de 2004, - Michael analisa o projeto de diversas Igrejas Católicas contemporâneas, confrontando o partido adotado pelo arquiteto autor do projeto com edificações antigas, cujos programas de necessidades estavam de acordo com a ritualística e a simbologia católica tradicional – ainda em uso na época da construção.

Os próximos edifícios religiosos a serem estudados neste blog serão Igrejas Católicas. Em se tratando de uma religião dominante no nosso país, e certo de que grande parte dos visitantes do blog tenham a possibilidade de vivenciar esta religião de perto, pularei explicações mais detalhadas da história do Cristianismo e me aprofundarei em análises das igrejas, tentando resgatar traços da geometria sagrada existente. Utilizarei alguns pontos identificados pelo arquiteto Michael S.Rose, confrontando-os com questões abordadas em  livros que falam sobre os novos rumos de ser católico no século XXI. Como se trata de um tema bastante presente no nosso dia-a-dia, ficarei muito feliz de receber comentários a respeito do projetos. Inicio este tema provocando a seguinte reflexão: Até que ponto os projetos destas igrejas nos emocionam?

Catedral Metropolitana de São Sebastião, RJ.
Projeto do arquiteto Edgar de Oliveira da Fonseca. 1979

Catedral de Nossa Senhora Aparecida, DF
Projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, 1958.
Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Assunçao, SP.
Projeto do arquiteto Maximilian Emil Hehl, 1954

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Arquitetura Baha'i, a síntese de uma religião - Filmes

Por se tratar de uma religião viva, que luta pela Unidade em um terreno dominado por religiões fundamentalistas, grande parte da produção cinematográfica criada acaba sendo destruida antes mesmo da finalização. E as poucas que conseguem ser finalizadas, apresentam demasiadamente as dispustas politico-religiosas, dando pouca ênfase ao simbolismo e a Arquitetura Sagrada, pontos que são discutidos neste blog.

Sendo assim, após dias pesquisando referências no cinema, minha busca se deu por concluida ao encontrar na internet alguns filmes onde o tema principal é a Arquitetura Sagrada. Os três selecionados seguem abaixo. Embora sejam imagens brilhantes, ainda acredito que esta arquitetura tão significativa mereça trabalhos cinematográficos mais interessantes... Fica minha sugestão aos que atuam neste campo.





Contudo, espero que as imagens apresentadas sejam capazes de despertar a emoção que os arquitetos certamente buscaram ao projetarem. Bom fim de semana!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Os sítios sagrados Bahá'ís e sua relação com a urbe

“ A sabedoria que jaz no construir-se tais edifícios é que em dada hora o povo saberia que é tempo de reunir-se, e assim todos se congregariam, e com perfeita harmonia entre si devotar-se-iam à oração; como resultado de tal reunião a unidade e o afeto haverão de crescer e florescer no coração humano.”
1. Ensinamento Baha'i.

Os ensinamentos da religião atribuem que os principais templos Bahá'ís devem ser construídos em lugares de fácil acesso, dedicados ao desenvolvimento social, humanitário, educacional e científico. Embora ainda nenhum desses templos tenham sido construído nesta extensão, esta seria a premissa para a escolha do lugar de implantação da Casa de Adoração.
Os escritos da Fé Bahá'í, determinam que após a edificação dos templos sagrados deve seguir a  construção de um complexo de edificações ao redor  como hospitais, escolas, orfanatos, universidades,  que visam o benefício e o progresso humano. Os Bahá'ís afirmam que futuramente, as Casas de Adoração se tornarão o centro de todas as cidades.

Implantação do Templo Baha'i em Colina, Chile.
Importante observar a projeção de edificios que
visam a instalação de infra-estrutura para a
comunidade Baha'i.
As cidades devem ser estruturadas de modo a facilitar o transporte de mercadorias, permitindo um melhor fluxo econômico e o desenvolvimento socioeconômico urbano. Os ensinamentos associam o termo "doenças modernas"  ao stress provocado, em muitas, pela agitação de grandes centros urbanos. Esse aspecto do desenvolvimento desordenado das cidades, sufoca as relações humanas e as necessidades individuais dos seres humanos, tais como o contato com a natureza. A unidade mundial, como é o princípio da Fé Bahá'í, será dificilmente realizada se os aspectos da socialização objetivar primeiramente a aquisição de mercadorias, como de certo modo tem se tornado aparente os centros urbanos. Os templos Bahá'ís e os complexos que futuramente serão estabelecidos ao redor representarão um progresso orgânico e essencial do indivíduo e da sociedade. O valor evocativo é a de que todas as estruturas das cidades sejam edificadas visando a unidade da humanidade.
Implantação do Templo Baha'i em Colina, Chile.
Importante observar o projeto paisagístico do entorno.
As Casas de Adoração são abertas ao público, exclusivamente dedicadas à oração e meditação, sendo proibido qualquer tipo de culto ou sermão. É permitida somente a leitura de escrituras consideradas sagradas, prática esta estendida à pessoas de todas as religiões , que lá podem  recitar orações de seus livros sagrados, sejam estes de autoria de Krishna, Moisés, Zoroastro, Buda, Cristo, Maomé, Báb ou Bahá'u'lláh.
Atualmente existem 9  templos implantados – estando 2 em fase de construção – , que podem ser visualizados através de imagens de satélite, seguindo as coordenadas ou os links a seguir:

Templo Baha'i na Alemanha  -   50° 6' 47.24" N 8° 23' 48.07" E
Templo Baha'i na Austrália - 33° 41' 7.54" S 151° 15' 31.42" E
Templo Baha'i no Chile - 33° 0' 21.58" S 70° 39' 9.12" W 3D - em construção
Templo Baha'i nos Estados Unidos - 42° 4' 27.90" N 87° 41' 3.64" W
Templo Baha'i na Índia - 28° 33' 12.14" N 77° 15' 31.01" E
Templo Baha'i em Israel - 32° 48' 48.68" N 34° 59' 11.43" E 
Templo Baha'i no Panamá - 9° 3' 34.90" N 79° 31' 13.75" W
Templo Baha'i em Samoa - 13° 54' 9.37" S 171° 46' 34.45" W
Templo Baha'i na Uganda - 0° 21' 52.00" N 32° 35' 19.04" E
 Notas:
1.Ensinamento Baha'i. O Tabernáculo da Unidade

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Princípios religiosos da Fé Baha'i

“ Ó vós que habitais a terra! A religião de Deus visa o amor e união; não a torneis causa de inimizade e conflito... Nutrimos a esperança de que o povo de Bahá possa ser guiado pelas palavras abençoadas: "Vede! Todas as coisas são de Deus!" Esta excelsa afirmação é como água para extinguir o fogo do ódio e da inimizade latente dentro dos corações e peitos dos homens.. Ele, deveras, diz a verdade e mostra o caminho. Ele é o Todo-Poderoso, o Excelso, o Benévolo. “
1. Ensinamento Bahá'í
Os ensinamentos  Bahá'ís,  assim como o de outras religiões, definem que o propósito da vida é o crescimento espiritual. Este  processo é gradual, como em um embrião no ventre materno, continuando eternamente após a morte. O paraíso referido em muitas escrituras religiosas, é apontado na Fé Bahá'í como metafórico, já que o desenvolvimento é eterno, tratando-se para eles, apenas de uma definição necessária adotada pelos profetas anteriores para melhor compreensão dos povos da época.
Todos os ensinamentos Bahá'ís  giram ao redor de três alicerces principais: a unidade de Deus, unidade de Seus Profetas, unidade da humanidade.
Um só Deus, uma só Religião, um só Mundo - ensinamentos Baha'i.
 Um só Deus
Os Bahá'ís acreditam na existência de um único Deus, o criador de todas as coisas. A existência de Deus é considerada eterna, não tendo começo ou fim. Segundo os  ensinamentos Bahá'ís, Deus é inacessível e incognoscível, mas tem consciência de sua criação, tem uma vontade e propósito. Os ensinamentos Bahá'ís também declaram que Deus não pode ser compreendido pela mente humana. Eles  acreditam que Deus expressa sua vontade através de uma série de Mmensageiros Divinos referidos por "Manifestantes de Deus" ou "Profetas". Esses Manifestantes estabelecem as bases das grandes religiões mundiais, e os seus ensinamentos são uma forma de Deus educar a humanidade.  Nas escrituras Bahá'ís, Deus é frequentemente referido por títulos, como "Todo-Poderoso", "Onisciente", "Suprema Sabedoria", "Aquele que subsiste por si próprio".
Uma só Religião
 A despeito de constantes conflitos que há séculos envolvem as religiões na visão de inúmeros expositores, os Bahá'ís se apoiam nos próprios ensinamentos dessas religiões para enfatizar que todas as religiões, ao contrário, ensinam o amor e a unidade - sendo a intolerância e o fanatismo origem de tais conflitos.  É proibido o fanatismo na Fé Bahá'í, o que consistiria em se fechar a dogmas que muitas vezes podem ser mal-interpretados. À luz do princípio de que todas as religiões provém de Deus, os homens podem procurar compreender e desta forma eliminar os preconceitos religiosos.
A 'religião de Deus', ou 'religião una' descrita através da sucessiva revelação Divina a cada época, foi denominada Revelação Progressiva. De acordo com os bahá'ís, este conceito não é exclusivo da Fé Bahá'í, mas apresentada de diferentes maneiras em todas as religiões. Moisés fez a promessa ao povo de seu tempo sobre a vinda de um Messias, quando Cristo afirmou ser o Prometido, também advertiu a seu povo sobre a vinda de um Messias. Os escritos bahá'ís delineiam categoricamente as religiões que fazem parte da revelação de Deus. Sobre a mudança entre as Leis e Ensinamentos de cada Manifestante, Bahá'u'lláh diz:
“ Ó povo! As palavras são reveladas segundo a capacidade, de modo que os principiantes possam fazer progresso. O leite deve ser dado segunda a medida, a fim de que a criancinha deste mundo, possa entrar no Reino da Grandeza e estabelecer-se na Corte da Unidade. “ 2
Os bahá'ís desenvolvem a idéia de que cada época diferente exige necessidades diferentes. Assim como as leis de um país precisam evoluir conforme evolui sua sociedade, as Leis de Deus sempre evoluem através das religiões, conforme evolui a humanidade.
Um só Mundo
Os Bahá'ís acreditam que o ser humano possui uma "alma racional", na qual provê à espécie uma capacidade única de reconhecer a Deus e a relação da humanidade com seu criador. Todo ser humano é considerado possuidor do dever de reconhecer a Deus através de seus mensageiros e de seus ensinamentos. Através do reconhecimento e obediência, serviço à humanidade e práticas espirituais, os Bahá'ís acreditam que a alma pode se aproximar de Deus. Quando um ser humano morre, a alma continua existindo no mundo espiritual próximo ou distante de Deus, descreve a relação entre este mundo e o próximo, não sendo nenhum lugar físico, nem a sujeição a recompensas ou punições.
Os Escritos Bahá'ís enfatizam a igualdade essencial do ser humano e a abolição de todos os tipos de preconceito. A humanidade é considerada essencialmente uma, embora diversificada; esta diversidade de raça e cultura é considerada merecedora de apreciação e tolerância. Doutrinas de racismo, nacionalismo, castas, e classes sociais são impedimentos artificiais da unidade. Os ensinamentos Bahá'ís declaram que a unificação da humanidade deve ser assunto principal sobre as condições religiosas e políticas no tempo presente.
Abaixo, a última parte da entrevista do arqutieto Luis Henrique, representante da Fé Bahá'í no 3° Encontro da Nova Consciência, de 1994.


Notas:

1. Esinamentos Baha'is, retirado do livro O Tabernáculo da Unidade.

2. Ensinamento Baha'i, retirado do livro "O segredo da Civilização Divina."

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Persépolis, livro e filme. França, 2007.

Capa do livro.
Persépolis narra de forma singela passagens autobiográficas da autora do livro em quadrinhos que deu origem a esta animação inteligente e brilhante, Marjane Satrapi. A adolescência de Satrapi desfila por cenários que testemunham a ditadura imposta pelo Xá no Irã e a posterior irrupção do regime fundamentalista dos ayatolás.

Em Teerã, capital iraniana, durante o ano de 1978, a criança Marjane, mergulhada em seus sonhos infantis, acalenta o desejo de se tornar uma profetisa quando crescer, pois assim terá poderes para salvar o Planeta. Ela tem diante de si o exemplo liberal de sua avó, marcante figura feminina que oferece à neta preciosas diretrizes morais e também um intenso senso de humor. Além disso, seus pais são modernos, adeptos da ideologia de esquerda e igualmente inteligentes.
Marjane vê se desenrolar diante de seus olhos a passagem de uma ditadura opressiva para um sistema regido por grupos islâmicos fanáticos, não menos cruéis que o antigo Xá. Eles determinam cada detalhe da vida dos iranianos, desde o comportamento até a forma de se trajar. A menina é então obrigada a usar um véu, o que lhe inspira a vontade de se converter em uma autêntica revolucionária.
Esta genial animação se vale de vários desenhos compostos em preto e branco, perpassados por densas faixas pretas, no interior das quais é possível encontrar diversas tonalidades em tons acinzentados. Mas o cuidado com o visual não pretende em momento algum ofuscar a beleza e a criatividade do que é narrado no centro dessa moldura formal. Certamente uma narrativa tradicional roubaria tanto do livro quanto do filme sua engenhosidade natural e a poética surpreendente que se encontra em ambos.
A animação desvela boa parte da história iraniana que se desenrola a partir do governo totalitário do Xá, retratando também o bombardeio de Teerã ao longo da guerra contra o Iraque, seguido por um incessante sumiço de pessoas. Este contexto desemboca em um sistema cada vez mais opressivo e cruel, no qual não faltam conflitos bélicos, torturas e crimes.
Diante desta preocupante situação, os pais de Marjane decidem enviá-la para Viena, capital austríaca, tentando assim impedir que algo terrível lhe aconteça. Aí a jovem experimenta outras tantas conturbações, mais relacionadas ao período da adolescência. Ela enfrenta questões como a liberdade, o amor, perpassados por boas doses de tristeza e melancolia, por se sentir distante de sua família, exilada de sua pátria. Marjane se sente inevitavelmente deslocada em seu novo refúgio.
A jovem se vê diante de um dilema crucial. Para conquistar o mínimo de liberdade necessária para qualquer ser humano, Marjane é obrigada a se manter em terra alheia. Se quiser voltar para seu país de origem, terá que abrir mão de tudo que pensa, sente e sonha.
O filme francês de animação estreou em 2007, escrito e dirigido por Satrapi e Vincent Paronnaud.  No Festival de Cannes de 2007, recebeu o prêmio do júri. Foi lançado na França e na Bélgica em 27 de junho do mesmo ano. No Brasil, foi lançado em 30 de outubro de 2007 no Festival Internacional de São Paulo e em 23 de fevereiro de 2008 no circuito comercial.

A animação do ponto de vista estético já seria uma boa dica para o fim de semana. No entanto, a sugestão para esta data está de acordo com a temática abordada nos tópicos desta semana, já que a história se passa no Irã, cidade importantíssima para a religião Baha’i, que estamos estudando. Vale a pena tentar entender o quão desafiador foi - e ainda é - apresentar conceitos religiosos mais abrangentes em um cenário fundamentalista tão severo.
A seguir, um trecho do filme Persépolis... Bom fim de semana!