“No centro de todas as coisas mora o Sol.
Pode-se imaginar um melhor lugar neste templo, o mais belo de todos que aquele
desde o que pode visualizar ao mesmo tempo todas as coisas?
Se o chama com razão luminária, espírito, Senhor do Universo.
Para Hermes Trismegisto, é o Deus invisível; para Electra de Sófocles, nada escapa a seu olhar.
Sentado no alto de seu trono, o Sol guia a seus filhos que o circundam.”
Nicolau Copérnico, De revolutionibus orbium caelestium, 1543. 1
O círculo foi a forma adotada pela civilização egípcia para sintetizar a existência de um Deus Supremo, o Arquiteto do Mundo. Após quase dois mil anos de politeísmo, por volta do ano de 1.379 a.C., durante o reinado de Amenófis IV estabeleceu-se o culto a um único deus, chamado Aton (antigo deus Amon – deus Sol). O faraó, que passou a se chamar Akhenaton, “ aquele que serve a Aton", proibiu e fechou os templos dedicados a outros deuses. O culto a Aton, que havia começado por volta do ano de 2.000 a.C. com o faraó Amenemhat, espalhou-se por todo o país.
A iniciativa de Akhenaton apesar de ter interesses políticos, já que ele próprio denominou-se o “filho do Sol”, possibilitou contribuições significativas para o desenvolvimento das grandes religiões monoteístas do mundo atual, todas elas com um denominador comum: as Escolas de Mistérios do Egito.
A primeira escola criada da qual se tem informação foi a Escola Osiriana, cujos ensinamentos tinham por objetivo a vida, a morte e a ressurreição, conforme o mito de Osíris. Os ensinamentos eram transmitidos por meio de peças teatrais e dramas ritualísticos, e somente as pessoas que davam prova de seu desejo sincero em obter esse conhecimento poderiam participar. Com o passar do tempo, essas escolas foram tendo um caráter mais fechado, e os estudos místicos foram sendo desenvolvidos em templos próprios, criados especialmente para esses fins.
O faraó Tutmés III (1.540 a 1.447 a.C.), tido pelos historiadores como um dos mais importantes da 18º Dinastia, foi o responsável pela reformulação das Escolas de Mistérios, reunindo todas elas em uma única Ordem, regida sob as mesmas normas. Nesse novo modelo, as escolas de mistérios eram convocações onde os adeptos estudavam sobre a Sabedoria Sagrada de Thoth, o deus egípcio da Matemática, da Escrita, da Astronomia e da Engenharia:
“(...) possuía [Thoth] grande habilidade em Matemática celeste, cujas leis foram as quais a criação e a manutenção do Universo se basearam (...) ele foi o inventor dos números e das letras do alfabeto, e das artes de ler e de escrever (...) compreendendo os mistérios dos céus, os revelou e os inscreveu em livros sagrados escondendo-os aqui na terra, com a intenção de que fossem procurados pelas gerações futuras, mas encontrados somente por verdadeiros merecedores.” 2.
Não existem registros sobre a existencia de Thoth, mas atribui-se a ele uma coleção de mais de 30.000 volumes, que continham todos os conhecimentos naturais e sobrenaturais, escritos em hieróglifos; e todo esse "Conhecimento" era ensinado aos iniciados pelos mestres dirigentes dos rituais.
A fama das Escolas de Mistérios proporcionou um número grande de interessados, o que gerou uma revolução no campo das artes, cultura e arquitetura. Akhenaton, que foi elevado ao cargo de Mestre, ordenou a construção do templo de Aton, além de outros edifícios mais específicos para a realização dos rituais. No entanto, de todos, o edifício mais simbólico foi a Grande Pirâmide, edificada no reinado do faraó Quéops (sua construção data de aproximadamente 2.528 a.C.), sendo referida como o santuário de Thoth. Posteriormente, os gregos que tinham por costume renomear os personagens de outras civilizações com o nome equivalente em sua língua, também o fizeram com o deus do "Conhecimento" , e neste sentido a existência da grande pirâmide foi fundamental; Thoth foi renomeado como Hermes, cuja raiz é a palavra Herma, que quer dizer montanha de pedras. 3.
Todo o suposto “Conhecimento de Thoth” foi compilado, passando a se chamar “Sabedria Hermética”, reescrita na famosa “Tábua de Esmeralda”, súmula de conhecimentos iniciáticos. Diversos personagens históricos cuja produção arquitetônica ou artística tem fundamentos simbólicos do ponto de vista religioso, certamente estudaram ou tiveram conhecimento deste capítulo importante no conhecimento da geometria sagrada. Entendendo estes antecendentes históricos, certamente será mais fácil compreender as raízes das teorias de vários geômetras que viveram na era cristã.
Fonte:
1. ROOB, Alexander. Alquimia & Mística, el museo hermético – Madri, Espanha: Taschen, 2005.
2. ELLIS, Ralph. Thoth, o arquiteto do Universo: mapas neolíticos da Terra./
tradução de Flávio Lubisco – Rio de Janeiro: Madras Editora Ltda, 2006. p. 60. apud IONS, Veronica. God of Egyptians.
3. PLATAO, Timeu e Crítias ou a Atlântida. Editora Hemus. Sao Paulo, 2002. p. 33.
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