“... a parte da divindade [sangue dos deuses atlantes] dentro deles estava se
tornando cada vez menor e mais fraca pela mistura com os mortais
[sangue dos homens] cujo sangue se tornava cada vez mais dominante (...) pois
haviam perdido sua maior herança,sua parte mais preciosa e valiosa. (...)
E Zeus, deus dos deuses (...) percebeu como essa raça íntegra estava em um
terrível apuro e quis infligir-lhe um castigo.”
Platão, Timeu e Crítias ou Atlântida, 561 a.C. 1
A religiosidade fazia parte do cotidiano dos gregos 2 e posteriormente dos romanos, já que grande parte dos conceitos religiosos destes foi retirada da cultura grega. Naqueles tempos quando a reverência pagã ainda não havia contaminado o mundo europeu, qualquer objeto que passasse pelas mãos de um artesão continha propriedades sagradas, pois o trabalhador estava consciente da natureza sagrada dos materiais com que trabalhava e da sua responsabilidade como fiduciário desse mesmo material.
Foi devido aos padrões empregados na sociedade grega que os estudos de simbologia se difundiram. Isso porque quando a religiosidade se incorporou na vida do povo grego, criou-se uma nova condição para a geometria sagrada, que, diferente do que acontecia nas civilizações egípcia e babilônica, não estava mais restrita aos sacerdotes (guardiões e interpretes de todos os conhecimentos) mas nas mãos de cidadãos livres que começavam a investigar racionalmente a natureza e o universo. 3.
Do ponto de vista mitológico, o sistema de valores da sociedade grega não girou em torno de um soberano autocrata ou de um deus incompreensível, mas em torno do homem 3 – “O homem é a medida de todas as coisas, dos seres vivos que existem e das não entidades que não existem.”, diria Protágoras (481 – 411 a.C.) 4. Acreditavam que as pessoas pudessem procurar a verdade por meio da indagação e do debate.
A mitologia grega baseava-se em deuses que viviam da mesma forma que os homens da época. Tinham as mesmas necessidades, as mesmas imperfeições, os mesmos sentimentos. Criaram deuses olímpicos com todas as suas forças e imperfeições de homens e mulheres. Os deuses “habitavam” a Terra e permeavam o cotidiano das pessoas. Por isso, toda a Terra e seus elementos também eram sagrados. Assim, esculpir e modelar era um ato de adoração, e o artesão trabalhava com o melhor de sua habilidade. 5
Os deuses do Olimpo. Fonte: greekmithology.com |
Na Roma antiga os homens seguiam uma religião onde os deuses apesar de serem imortais, possuíam características comportamentais e atitudes semelhantes aos seres humanos. Sua religião porém não se baseou na graça divina e sim na confiança mútua entre deuses e homens; e seu objetivo era garantir a cooperação e a benevolência dos deuses para com os homens e manter a paz entre eles e a comunidade. Diferente dos gregos, os romanos tinham sentido prático e poucas preocupações filosóficas acerca da natureza ou da divindade. Seus preceitos religiosos não incorporaram elementos morais, mas consistiram apenas de diretrizes para a execução correta dos rituais. Também não desenvolveram uma mitologia imaginativa própria sobre a origem do universo e dos deuses; seu caráter legalista e conservador contentou-se em cumprir com toda exatidão os ritos tradicionalmente prescritos, organizados como atividades sociais e cívicas. Sem teologia elaborada, a religião romana não entrava em contradição com essas divindades, nem os romanos tentaram impor aos conquistados uma doutrina própria. 6
Deuses romanos: diferenciados pelo nome e aparência externa. |
Nos próximos estudos poderemos observar como a diferença no grau de importância da religião marcou definitivamente as construções religiosas das civilizações grega e romana.
Fontes:
1. PLATAO. Timeu e Crítias ou Atlântida. SP. Editora Hemus. 2002. p.55.
2. . WITTKOWER, Rudolf. Los fundamentos de la arquitectura em la edad del humanismo.
Madri, Espanha. Alianza editora. 2002. Apêndice IV parte II. P. 209.
3. O homem passa a ser a figura central filosófica só a partir de Sócrates (Atenas, 470 ou 469 a.C. – 370 a.C.) que, valorizando a descoberta do homem feita pelos sofistas, orientou-a para os valores universais segundo a via real do pensamento grego. Os filósofos pré-socráticos (como Heráclito, por exemplo) divinizavam a natureza, utilizando de seus elementos para comparações em seus discursos.
4. PENNICK, Nigel. Geometria sagrada. SP. Editora Martins Fontes. 1980. p.7
5. Ibid, p.67.
65. GURY, Mario da Gama. Dicionário da Mitologia grega e romana. SP. Editora Jorge Zahar.2003
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