" A Europa se fez peregrinando a Santiago de Compostela"
frase atribuída ao escritor e pensador Goethe. 1
Vista do altar mor em tipologia barroca. Fonte: www.benevale.com |
Detalhe da escultura de Santiago com esclavina em prata. Fonte: www.benevale.com |
Detalhe do artesoado ricamente decorado. Fonte: www.benevale.com |
Vista da abóbada do cruzeiro, com decoração barroca. Fonte: www.benevale.com |
Debaixo do camarim está o
suposto sepulcro de Santiago e dos seus dois discípulos Atanásio e Teodoro. Por
receio das frequentes incursões de piratas ingleses, especialmente de Francis
Drake, que ameaçava Compostela depois de desembarcar na Corunha em 1589, por
ordem do arcebispo Juan de Sanclemente as relíquias foram trasladadas e
escondidas no chão da abside ao lado da capela-mor.
Ao longo das naves, se enfileiram os feixes de colunas com fustes românicos e capitéis corintios ou compostos, cuja rigidez do material ou falta de decoração mais rebuscada preserva a atenção à abside ou ao altar mor da igreja. Ao longo destes fustes, saltam aos olhos dos estudiosos os inúmeros signos incrustados nas pedras que formam estas colunas, provavelmente herança das ordens secretas que participaram da construção desta edificação. Já as abóbadas e os arcos conservam vestígios de cinco etapas pictóricas: pinturas medievais, outras renascentistas de Juan Bautista de Celma, barrocas de Pedro de Mas ou tardo-barrocas de Gabriel Fernández, que as pintou junto com as do zimbório do cruzeiro entre os anos 1766 e 1767.
Como elementos únicos existentes nesta catedral vale ressaltar o par de órgaos e o turíbulo, considerado o maior do mundo existente em igrejas católicas. Inicialmente eram dois órgãos independentes. Devem-se a
generosidade de Dom Antonio Monroy, Arcebispo (1685-1815). O situado ao sul da
nave foi contratado o 13 de dezembro de 1704 ao Maestro de Órgãos Manuel da
Vinha, vizinho de Salamanca. A Caixa deve-se a traça-a do arquiteto Antonio
Afonsín e ao escultor Manuel Romay, ambos compostelanos. Passariam quatro anos
até a entrega do mesmo no ano 1708. Em 1712 o Cabildo encarregou o situado ao
norte da nave ao mesmo maestro e ao mesmo Romay a caixa; Francisco Sánchez foi o encarregado de
pintá-lo e dourá-lo.
Junto à Capela Maior, os órgãos e o coro, hoje desmontado e
transladado ao Mosteiro de San Martín Pinario (enfrente da catedral) onde pode
ser admirado, formavam o conjunto barroco do corpo da basílica. Os órgãos foram
consertados e refinados repetidas vezes, mas pouco a pouco foi-se abandonando o
situado ao norte, para limitar ao uso do Sul. Ao desaparecer o Coro, a partir de 1946,
procedeu-se à reforma dos órgãos. Dotou-se-lhes de uma consola comum, se
substituiu o fole manual por outro elétrico e, conservando os canos como fonte
sonora, se substituiu as varetas mecânicas por um sistema elétrico. Esta
importante obra foi feita por Alberdi, famoso organeiro de Azpeitia
(Guipúscoa).
Vista do altar a partir da nave central. |
Detalhe dos confessionários localizados ao longo das naves laterais, com atendimentos em diversos idiomas. Fonte: www.benevale.com |
Inscrições simbólicas nas colunas de pedras ao longo da nave central. Fonte: arquivo pessoal. |
Vista dos órgaos da catedral. Fonte: www.benevale.com |
Botafumeiro. |
Padres acionando o botafumeiro. |
Cerimônia com o botafumeiro. Fonte: www.google.com |
Quanto ao turíbulo, ele tem 1m50 de altura e pesa aproximadamente 53 quilos. É elevado a 20
metros de altura e, quando manejado mediante cordas para
espargir o incenso pela catedral, pode chegar à impressionante velocidade de
70km/h. Esse enorme turíbulo é conhecido pelo apelido de
"botafumeiro", que, na língua galega, significa algo como
"espargidor de fumaça". O original foi construído em 1554 e roubado
pelas tropas francesas em 1809. O atual foi fabricado 1851. O botafumeiro já foi usado em todas as missas de domingo,
mas hoje é reservado a somente doze datas solenes por ano. Abaixo um vídeo revela o momento em que ele é utilizado durante a celebração.
Notas:
1. Goethe, Johann Wolfgang. Escritore pensador alemão (Francfurt, Alemanha
1749-Weimar, Alemanha 1832). Profundamente europeu e europeísta, a Goethe é
atribuída uma das frases que mais felizmente tem sido recuperada para a recuperação
da importância das peregrinações atualmente: “Europa se fez peregrinando a
Santiago de Compostela”. É utilizada em inúmeros livros, guias, exposições,
discursos oficiais, etc. Contudo, a atribuição ao grande escritor alemão parece
descartada. As organizações especialistas na obra de Goethe e estudiosos
consultados por diferentes instituições – entre elas o governo autônomo da
Galícia – não podem confirmar sua existência,
pelo que atualmente se considera
apócrifa.
Ainda assim, se atribuem ao autor de Fausto outra citação
relacionando o fenômeno geral das peregrinações com a ideia da Europa. O médico, político e europeísta galego Gerardo
Fernández Albor afirma que a frase atribuída ao autor alemão é a seguinte: ‘Europa ist aus der Pilgerschaft geboren –‘Europa nasceu na
peregrinação’-. Uma frase idêntica é resgatada por Millán Bravo Lozano,
latinista e grande estudioso do Caminho e de suas origens, quem em um livro em
alemão de 1992 sobre Compostela – Santiago de Compostela: auf alten Wegen
Europa neu entdecken- destaca a seguinte frase de Goethe: “Europa is auf der Pilgerschaft goberen und
das Christendum ist Seine Muttersprache” –‘Europa nasceu na peregrinação e a
cristandade é seu idioma materno”. Tudo indica que em um dado momento da
contemporaneidade a frase foi adaptada ao interesse da peregrinação
compostelana com um êxito inegável. Independente das afirmações dos estudiosos,
na obra de Goethe se pode rastreae alguma referencia a peregrinação de
Compostela. Em sua viagem à Itália, realizada entre 1786 e 1788, passa pelas
proximidades do santutário suíço de Santa Maria de Einsiedeln, ponto histórico
dos peregrinos, especialmente os germânicos. E neste ponto, estabelece relação
com uma menina que o conta que estava ali para peregrinar a Compostela com sua
mãe, mas esta morreu sem realizar a sua promessa.
GOETHE, Johenn Wolfgang. Gran
Enciclopedia del Camino de Santiago, volumen 9, pag. 53 y 54.
https://albertosolana.wordpress.com/2014/07/15/10-goethe-y-la-peregrinacion-como-origen-de-europa/
2. A esclavina é uma capa curta de tecido ou couro
que cobre os ombros, tipicamente usada pelos peregrinos e romeiros.
3. Artesoado refere-se a uma obra
decorativa onde se adorna tetos e abóbadas com artesões, molduras de madeira
com motivos escultóricos ou pictóricos. É uma característica marcante da
arquitetura mudéjar e mourisca.
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