sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Persépolis, livro e filme. França, 2007.

Capa do livro.
Persépolis narra de forma singela passagens autobiográficas da autora do livro em quadrinhos que deu origem a esta animação inteligente e brilhante, Marjane Satrapi. A adolescência de Satrapi desfila por cenários que testemunham a ditadura imposta pelo Xá no Irã e a posterior irrupção do regime fundamentalista dos ayatolás.

Em Teerã, capital iraniana, durante o ano de 1978, a criança Marjane, mergulhada em seus sonhos infantis, acalenta o desejo de se tornar uma profetisa quando crescer, pois assim terá poderes para salvar o Planeta. Ela tem diante de si o exemplo liberal de sua avó, marcante figura feminina que oferece à neta preciosas diretrizes morais e também um intenso senso de humor. Além disso, seus pais são modernos, adeptos da ideologia de esquerda e igualmente inteligentes.
Marjane vê se desenrolar diante de seus olhos a passagem de uma ditadura opressiva para um sistema regido por grupos islâmicos fanáticos, não menos cruéis que o antigo Xá. Eles determinam cada detalhe da vida dos iranianos, desde o comportamento até a forma de se trajar. A menina é então obrigada a usar um véu, o que lhe inspira a vontade de se converter em uma autêntica revolucionária.
Esta genial animação se vale de vários desenhos compostos em preto e branco, perpassados por densas faixas pretas, no interior das quais é possível encontrar diversas tonalidades em tons acinzentados. Mas o cuidado com o visual não pretende em momento algum ofuscar a beleza e a criatividade do que é narrado no centro dessa moldura formal. Certamente uma narrativa tradicional roubaria tanto do livro quanto do filme sua engenhosidade natural e a poética surpreendente que se encontra em ambos.
A animação desvela boa parte da história iraniana que se desenrola a partir do governo totalitário do Xá, retratando também o bombardeio de Teerã ao longo da guerra contra o Iraque, seguido por um incessante sumiço de pessoas. Este contexto desemboca em um sistema cada vez mais opressivo e cruel, no qual não faltam conflitos bélicos, torturas e crimes.
Diante desta preocupante situação, os pais de Marjane decidem enviá-la para Viena, capital austríaca, tentando assim impedir que algo terrível lhe aconteça. Aí a jovem experimenta outras tantas conturbações, mais relacionadas ao período da adolescência. Ela enfrenta questões como a liberdade, o amor, perpassados por boas doses de tristeza e melancolia, por se sentir distante de sua família, exilada de sua pátria. Marjane se sente inevitavelmente deslocada em seu novo refúgio.
A jovem se vê diante de um dilema crucial. Para conquistar o mínimo de liberdade necessária para qualquer ser humano, Marjane é obrigada a se manter em terra alheia. Se quiser voltar para seu país de origem, terá que abrir mão de tudo que pensa, sente e sonha.
O filme francês de animação estreou em 2007, escrito e dirigido por Satrapi e Vincent Paronnaud.  No Festival de Cannes de 2007, recebeu o prêmio do júri. Foi lançado na França e na Bélgica em 27 de junho do mesmo ano. No Brasil, foi lançado em 30 de outubro de 2007 no Festival Internacional de São Paulo e em 23 de fevereiro de 2008 no circuito comercial.

A animação do ponto de vista estético já seria uma boa dica para o fim de semana. No entanto, a sugestão para esta data está de acordo com a temática abordada nos tópicos desta semana, já que a história se passa no Irã, cidade importantíssima para a religião Baha’i, que estamos estudando. Vale a pena tentar entender o quão desafiador foi - e ainda é - apresentar conceitos religiosos mais abrangentes em um cenário fundamentalista tão severo.
A seguir, um trecho do filme Persépolis... Bom fim de semana!

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