“A Ciência, única capaz de penetrar o mistério das coisas,
o
dos seres e de seu destino,
pode dar ao homem asas para que se eleve ao
conhecimento
das mais altas verdades e chegue até Deus”.
Fulcanelli, escritor e alquimista do século XX 1.
Além da influencia no plano urbano de algumas cidades, as
Ordens Secretas conseguiram também inserir alguns símbolos – ou apenas criar
especulações a respeito deles – em inúmeras igrejas católicas edificadas durante
os anos de 1.200 a 1.500 a.C. Momento importante na história da disseminação do
Catolicismo, boa parte das Ordens Secretas atuava de forma intensa nos
canteiros de obras dessas construções e muitas vezes, sem a sua participação, alguns avanços tecnológicos não seriam
possíveis e a verticalização destes templos seria algo inviável.
Do ponto de vista especulativo, boa parte da estrutura principal destas
complexas edificações certamente não foram usadas por uma simbologia anterior
mas, a necessidade de se apropriar destes elementos fez com que surgissem
lendas ou alusões de carga simbólica a estes elementos. Acredita-se que abóbadas, arcos ogivais,
arcobotantes e contrafortes já tinham sido experimentados em construções Românicas,
mas a importância que estes elementos tiveram nas catedrais góticas fez criou inúmeros
mitos a respeito de seu uso aliado aos estudos místicos de Ordens Secretas. A
verticalidade destes templos sim tem sua conexão com princípios místicos, mas
esta tipologia tão particular não teve sua repercussão no simbolismo dos Rosa-cruzes
ou da Maçonaria, cuja arquitetura simbólica foi resgatada ou na Antiguidade
Clássica. 2
Rosácea de catedral gótica. Fonte: www.google.com.br |
Mesmo assim, ainda existem itens decorativos que possuem total
conexão com as Ordens Secretas e, cuja elaboração não se justificava pela
tecnologia como no casos dos elementos destacados acima. A luz do Sol não
necessariamente precisaria adentrar a Igreja em datas específicas demonstrando
o conhecimento dos arquitetos com os princípios de astrologia ou mesmo a
preocupação com a mística astronômica; os
tijolos da alvenaria de fechamento das igrejas não precisava ser demarcado com
linhas geométricas haja visto que seu papel era apenas a vedação; a estatuária poderia aludir apenas aos santos
católicos sem a necessidade de figuras antropomórficas em pináculos ou nas
fachadas; os “ labirintos” desenhados nos transeptos poderiam ser substituídos por
desenhos com linhas ortogonais já que a planta baixa das catedrais tinha a base
quadrada e não circular; e por fim as “rosáceas” poderiam ser simplificadas em
óculos envidraçados. 3
A planta baixa da maioria das Igrejas deste período
baseia-se na cruz latina, com algumas divergências de acordo com a necessidade
de naves laterais, o que acaba algumas vezes diluindo o desenho inicial. Do
ponto de vista dos teóricos de arquitetura, a planta surge da evolução da
planta basilical romana com algumas intervenções para a estabilidade do
conjunto. Contudo, para alguns místicos a estrutura das catedrais góticas não
parece resultado de “meros cálculos arquitetônicos”. De acordo com Fulcanelli, a
cruz latina estendida no solo é o símbolo
do crisol, o ponto em que uma determinada matéria perde suas características
iniciais para se transmutar em outra completamente diferente. Simbolicamente, a
igreja teria então o objetivo “iniciático” de fazer com que o homem comum, ao
penetrar nos seus mistérios, renascesse para uma nova forma de existência, mais
espiritualizada. 4
Elevação e planta baixa com cruz latina - Catedral de Chartres. Fonte: www.google.com.br |
Outro fator intrigante é a relação do Sol com a implantação
destas catedrais, proporcionando um efeito muito interessante em dias de santos
ou nos solstícios. Sabe-se que a linha mestra utilizada na locação destes edifícios
era obtida pelo método da Vesica Piscis, contudo o conhecimento destes princípios
certamente tem sua origem nas Ordens Iniciáticas ou mesmo na sabedoria
adquirida pelos cavaleiros Templários. 5. Sobre a luz solar que brinda os
altares nos solstícios, os místicos acreditam que haja toda uma relação das
datas religiosas com algumas datas já consagradas em calendários pagãos, de
forma que a Igreja se apropriou da força simbólica destes dias para seu
benefício. 6
(continua)
1. FULCANELLI. O Mistério das Catedrais. Editora Madras, São
Paulo. 2007
2. Para os rosacruzes, os estudos iniciáticos tiveram sua
origem nas Escolas de Mistérios do Egito, sendo a arquitetura deste período a
mais resgatada para a construção das lojas. Já a Maçonaria, embora originada
nos canteiros de obras das Igrejas Medievais, utiliza com carga simbólica as
colunas das ordens gregas clássicas, bem como alguns detalhes decorativos
existente nas residências ou palácios da antiguidade Greco-romana,
caso do piso
em xadrez preto e branco, por exemplo.
3. Óculo: designa um elemento de arquitetura, sendo uma
abertura na fachada ou no interior que pode ser redonda ou de outras formas,
localizada geralmente acima de uma abertura principal ou inclusa em frontões e
frontispícios. Fonte: www.wikipedia.com.br.
Embora teve seu uso mais marcante na arquitetura do Barroco,
seu primeiro uso
se deu no Panteão de Roma.
4. O autor - que também escreveu o livro “As Moradas dos
Filósofos” - revela o significado oculto das imagens expostas nas catedrais
góticas, como um tradutor da secreta “língua das pedras”. Segundo suas
palavras, a catedral inteira não é mais que uma glorificação muda, mas gráfica da antiga ciência de Hermes. Além da tipologia,
o próprio termo “gótico” que designa as catedrais citadas, segundo Fulcanelli,
seria uma deformação fonética de Argoth (ou Art Goth), uma linguagem restrita
utilizada somente por Iniciados em Ocultismo. A arte gótica é, com efeito, a
art got ou cot, a arte da Luz ou do Espírito. Ressalta que as catedrais não
devem ser vistas unicamente como obras dedicadas à glória do Cristianismo, mas
como uma vasta concreção de idéias, tendências e fé popular que motivou sua
construção. Sobre o autor, pouco se pode
afirmar sobre Fulcanelli. Sua real identidade é cercada de mistérios; , sabe-se
apenas que foi grande conhecedor de arquitetura, escultura, simbolismo,
literatura clássica, arquivos e alquimia. FULCANELLI. O Mistério das Catedrais.
Editora Madras, São Paulo. 2007.
6. A 25 de Dezembro
ocorre o solstício de inverno (no hemisfério norte) ou de verão (no hemisfério
sul). No 22º dia de Dezembro, 3 dias antes do ápice, o Sol se encontra nas
redondezas da Constelação de Cruzeiro do Sul, Constelação de Crux ou Alpha
Crucis. Depois deste período a 25 de Dezembro, o Sol move-se, criando a perspectiva
de dias mais intensos. E assim se diz: que o Sol morreu na Cruz, (constelação
de Crux), esteve morto por 3 dias, apenas para ressuscitar ou nascer uma vez
mais. Esta é a razão, segundo os alquimistas, pela qual Jesus e muitos outros
deuses do Sol partilham a ideia da crucificação, morte de 3 dias e o conceito
da ressurreição.
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