quarta-feira, 29 de junho de 2011

Arquitetura Sagrada para Orações Modernas. 1

“A necessidade do arquiteto é criar aquele uníssono de
                                                               partes e detalhes que nas melhores edificações de todos os
                                               tempos remontou miraculosamente os processos imaginativos
                                                               a quantidades matemáticas e a contextos geométricos.”

           Erich Mendelson, 1887-1953. 1
Catedral de Brasilia - Oscar Niemeyer .
exemplo de simplificação da forma em arquitetura destinada ao Sagrado.
fonte:http://pt.urbarama.com/project/catedral-de-brasilia 

            Durante metade do século XX, os arquitetos acharam que uma nova tipologia finalmente daria um rumo à desordem proporcionada pela liberdade projetual da arquitetura iluminista: o movimento chamava-se Modernismo. Na década de 50 alguns jovens arquitetos com o Team X iniciaram a crítica aos preceitos dos CIAM (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna), principalmente em relação ao urbanismo, ao contestar a famosa Carta de Atenas redigida por Le Corbusier, dentre eles Rykwert Peter Smithson e Aldo Van Eyc. 2   No entanto, as primeiras reações à excessiva dogmatização que a arquitetura moderna propôs surgiram, de uma forma rigorosa, por volta da década de 1970, tendo em nomes como Aldo Rossi e Robert Venturi seus principais expoentes.  
          A partir dos anos 70, preferiu-se a imagem ao original;  era o mundo do simulacro ocupando o espaço do real. O simulacro embelezava, intensificava, tendo encontrado na televisão o meio ideal para ser explorado, tornando tudo um espetáculo. A partir da queda do Muro de Berlim na década de 80, a quebra do bloqueio aos países do leste europeu proporcionou o processo de “liquidação” das ideologias. A informação espalhou-se em todos os cantos do planeta.  O homem foi globalizado mas, intelectualmente, estandardizado, acompanhando a produção em série das mercadorias, advinda da necessidade de otimização econômica. A serialidade foi uma forma de controle social e nas artes passou a ser um contraponto para muitos que consideravam a obra de arte como sendo única, original, irrepetível –  “(...) no momento em que o critério da autenticidade deixa de aplicar-se à produção artística, toda a função social da arte se transforma. Em vez de fundar-se no ritual, ela passa a fundar-se em outra práxis: a política(...)” 3
             A época contemporânea, caracterizada na cultura arquitetônica pelo abandono de todas as formas de ordem, de simetria e a chegada do desarmônico e do assimétrico, não se limita em suas considerações negativas. O momento contemporâneo é essencialmente cibernético, informático e informacional, aprofundando todo tipo de estudo e pesquisa.
Sabe-se de todo o processo teórico que os idealizadores do movimento moderno percorreram, porém a arquitetura em si propunha a simplificação e a concentração das formas, das linhas e do espaço, reduzindo-os à essência e ao serviço da funcionalidade. Em contraposição a essas características, o pensamento arquitetônico contemporâneo explora a incompatibilidade de estilos, formas e texturas. Em seus elementos estruturais relacionam contrastes como ordem dórica de colunas com sobriedade, impessoalidade com racionalidade, incorporando o ornamento como fundamental. Os projetos recuperam estilos, resgatando a história em um só conjunto. Os valores simbólicos também são retomados em comum com estilos antigos como o Barroco. Opõem-se as retas às curvas num ecletismo de formas; na união do ornamento barroco com o vidro fumé, por exemplo, cria-se um desequilíbrio de movimentos e fantasias. 4
Os arquitetos contemporâneos instigam o sagrado na ordem temporal utilizando o vocabulário arquitetônico das antigas construções religiosas. Isso se dá porque a sociedade ocidental do século XXI é herdeira do pensamento racionalista do Iluminismo, fundado na separação das esferas política e religiosa. E como herdeira deste período histórico tão importante, a arquitetura conseqüentemente, retorna em alguns momentos, a buscar a metodologia utilizada pelos arquitetos daquela época para as produções contemporâneas. Nos novos projetos, “profanam-se” algumas regras arquitetônicas sagradas, utilizando-as de forma a desaparecer a definição funcional dos edifícios, transformando-os em templos modernos dos novos deuses leigos. 5   

Notas:


Orações Modernas: termo criado pelos arquitetos Salwa e Selma Mikou, para matéria  sobre arquitetura
religiosa na edição nº 356 da  revista L’architecture d’aujord’hui, de jan/fev. 2005.

1. PENNICK, Nigel. Geometria Sagrada. SP. Editora Pensamento. 1980. p.68.

2. O Team X propôs, ainda nos anos 1950, recolocar nos projetos o homem real das ruas no lugar do Modulor, homem ideal, de Le Corbusier e da “velha guarda” dos CIAM.  As questões das diferenças individuais passaram a ser estudadas
no lugar do coletivo ideal. A idéia principal era de devolver a cidade a seus habitantes.
O grupo era heterogêneo e eclético, mas tinha a convicção comum de ir contra a doutrina da Carta de Atenas. Joseph Rykwert continua até hoje seguindo esta linhagem teórica, ao insistentemente buscar alternativas ao modernismo
 ao longo de toda sua obra. Pode-se notar uma influência direta de Van Eyck,
sobretudo temática, ligada ao estudo da mitologia e dos rituais, ou seja, ao resgate de um simbolismo primitivos
 claramente ausente do racionalismo do pensamento moderno.
http://www.vitruvius.com.br/resenhas/textos/resenha106.asp., acessado em  22 de maio de 2007, as 14h30.

3. QUEIROZ, Silvia de Souza. Brasilianas Neobarrocas na cena da contemporaneidade. http://www.arte.unb.br/anpap/queiroz.htm. 1996. apud BENJAMIN, Walter.
A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, in Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo. Editora Brasiliense, 1985.

4. QUEIROZ, Silvia de Souza. Brasilianas Neobarrocas na cena da contemporaneidade. http://www.arte.unb.br/anpap/queiroz.htm. 1996.


5. MIKOU, Selma. Revista L’architecture d’aujord’hui, jan/fev. 2005 – edição nº 356. artigo “Orações Modernas”, de Salwa e Selma Mikou.

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