quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A vara: transmissão de um sistema de medidas através das civilizações.


“ Javé dirigiu-se a Moisés dizendo-lhe: ‘ Fala aos filhos de Israel: que te seja dada um bastão,
                               da parte de cada tribo, ou seja, doze bastões, uma de cada um dos chefes, tribo por tribo.
                               Escreve o nome de cada um, sobre o próprio bastão.  Mas, sobre o bastão de Levi, escreve
                               o nome de Aarão, porque haverá um bastão especial para os chefes da família de Levi.”

                               Bíblia, Números 17, 16-18.

            A figura de Thoth, ou Hermes é representada com um bastão à mão, conhecido como bastão de Argos – na mitologia grega, o bastão que adormeceu o gigante de cem olhos, e libertou a bela Io. 1 O bastão de Thoth tem o formato do bastão egípcio, assim como o bastão do Papa – báculo. Por se tratar de um acessório representativo do Divino, o bastão (também chamado de vara ou cajado em alguns textos sagrados) era o símbolo do comando, e era oficialmente levado pelos chefes no exercício da autoridade.  2
            Sendo um acessório exclusivo das autoridades, era a partir do bastão que se estabeleciam as medidas adequadas aos projetos dos Templos, de forma a preservá-la e manter seu conhecimento exclusivamente aos religiosos e governantes. A unidade de medidas era o côvado, e o bastão utilizado para transpor as medidas na obra tinha um número pré-determinado de côvados, sendo este número aproximadamente de 5,5 côvados.   3   Este número provinha do valor de Pi (p), já conhecido pelos filósofos e matemáticos da época, expresso pela fração 22/7 - os números irracionais eram representados em forma de fração, e foram conhecidos a partir de estudos da diagonal do quadrado - .  Do valor de Pi dividido por 4  (o número de lados do quadrado)  obteve-se a  proporção  5,5, usada na vara sagrada.  Sendo assim, a vara tinha aproximadamente 288,20 centimetros de comprimento, e esta foi a medida utilizada por muito tempo na modulação básica dos edifícios religiosos.
Moisés e sua vara.
Fonte: gift15.blogspot.com
            Com a vara, além do exercício de autoridade, transmitia-se a unidade de medidas dos edifícios sagrados  egípcios.   Do ponto de vista bíblico/histórico,  levando  consigo  o  bastão,  Moisés  (que  viveu  durante  muito  tempo junto ao Faraó)   levou também as medidas sagradas. Posteriormente, o bastão sendo distribuído entre os chefes das doze tribos de Judá,  4  possibilitou o uso desse sistema de medidas na construção do Tabernáculo e do Templo de Salomão embora, nestes casos, a quantidade de côvados fosse diferente da vara egípcia.  5. Ainda com base nos textos da Bíblia, acredita-se que José de Arimatéia depois de cumprir sua missão em Jerusalém  (doando o sepulcro a Jesus Cristo), se dirigiu a região da Gália (nome romano da região hoje conhecida como França), e juntamente com alguns cristãos, edificava igrejas a partir do côvado.
            Dessa forma, o único sistema de medidas conhecido como sagrado (por estar presente nas Escrituras)  ia  sendo utilizado para a construção de edifícios religiosos, permanecendo válido até meados do século XVIII, quando Napoleão, ajudado pela Academia de Ciências da França propõe o uso do metro como referência para as construções da época.

Fontes:

1.  KURY, Mario da Gama. Dicionário da Mitologia Grega e Romana
7ª edição – São Paulo: Editora Jorge Zahar, 2003.2. Bíblia, Êxodo 4, 1-5. 
3. ELLIS, Ralph. Thoth, o arquiteto do Universo: mapas neolíticos da Terra./
tradução de Flávio Lubisco – Rio de Janeiro: Madras Editora Ltda, 2006. c. IV e passim.
4.  Bíblia, Números 17, 16 – 26. 
5. Bíblia, Êxodo 37. Construção do Tabernáculo, I Reis 6 – 8. Construção do Templo de Salomão.

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